Soncent

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segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Luso-cabo-verdiano, cabo-português, ou como é que é

Já sabemos há já muito tempo que em Portugal, as pessoas mudam de nacionalidade conforme fazem algo bom ou mau. Se um jovem que lá nasceu assalta uma bomba de gasolina é cabo-verdiano, se esse mesmo jovem tem sorte e vence uma prova de corrida, já é português. Pronto. Mas agora deu-me para cismar, porque ando a ver o Betinho a fazer um imenso sucesso no basket e ser chamado português - e ninguém, NINGUÉM se lembra de ao menos dizer luso-cabo-verdiano quando eu me lembro muito bem do Betinho no meu liceu, a jogar vóley connosco, logo, ele, português, só de for mesmo o passaporte... né? Ou seja, sequer se pode dizer que é filho de cabo-verdianos mas nasceu e cresceu em Portugal.

Mas também já nem sei onde é que está o mal, se uma das nossas famosas cantoras, já com muitos Carnavais, lembra-se de dizer que não se considera cabo-verdiana, mas sim "cidadã do mundo". Ora, se fossemos chineses e nos sentíssemos muito diluidos entre os milhões, vá lá que quiséssemos pertencer ao exclusivo mundo dos cidadãos do mundo, em vez de ao populado mundo dos chineses. Mas cabo-verdianos há tão poucos... a dar nas vistas pela positiva, menos ainda... (visto que pela negativa, basta ter um trisavô crioulo para sê-lo também) que bem que podíamos empunhar a nossa bandeira... ou não?

2 comentários:

Anónimo disse...

Nestes pontos, concordo inteiramente contigo.
Não se percebe esta diferença entre o cidadão de origem cabo verdeana que assalta a bomba de gasolina, que é um grande português quando marca o golo pela selecção à noite...
Também não se percebe porquê uma cabo verdeana diz que não se sente como tal, ou melhor, neste caso percebe-se.
Tal como Portugal, Cabo Verde é um país de emigrantes, e a característica principal do emigrante, pelo que vejo nos tugas que voltam a casa e nos cabo verdeanos que cá estão no país a trabalhar, é assimilar o sitio por onde andam e usá-lo como seu, mas só fazem isto de regresso a casa.
Por exemplo, os tugas em França empunham orgulhosamente as bandeiras nacionais, mas depois chegam a Portugal de "vacances" e têm todos casa com "fenaitres" e os seus filhos João Pedro, de repente passam a "Jean Pierre".
Enfim, somos povos pequenos, queremos brincar aos grandes, sempre ouvi dizer que é costume os anões porem-se em bicos dos pés...
Agora digo-te o inverso, que embora pouco, também existe.
Em Portugal eu sou Português, orgulho-me do meu povo e da minha cultura e tradição.
Quando estou em Cabo Verde (embora infelizmente não tenha nenhum trisavô aí nascido) tento falar crioulo e aderir aos costumes (obviamente àqueles com que me identifico), não sei se é a maneira certa, mas é outra de viver, sou tuga, orgulho-me disso, e esse orgulho permite-me ir buscar e apreender o que de bom há nas outras culturas, afinal historicamente Portugal é o país de pescadores que a falta de peixe fez ir andando mais longe da costa até que se tornaram descobridores.
Luís Bleck

Eileen Almeida Barbosa disse...

Ora aí está. Obrigada pela visita, Luís.