Folhas de papel caindo, dançando ao sabor violento de um vento que venta louco pelas esquinas, reclamando da vida de louco que tem pelos caminhos incertos de ruas estreitas desta cidade escura e tortuosa.
Folhas espalhando-se pelo chão coberto de grãozinhos de pó que ninguém vê, pela calçada à espera de um sola de sapato que os leve da estrada esburacada desta cidade decrépita e solteira.
Pó de vidas acabadas e suadas de um calor que aperta e não abandona, e que vai formando uma crosta de tristezas pegadas à pele como doença ou tatuagem de um monstro muito real para não ser temido e que mata, sem matar, deixando vivas pessoas que já estão mortas, e sem saber que o estão, passeiam-se ainda pela cidade fantasma coberta de pó das próprias vidas acabadas.
Vidas ou sombras de vida que habitam prédios em ruínas e caindo aos pedaços que caem na rua, juntamente com bocados de tintas alegres um dia e sem cor agora, mas que tingem ainda de triste as paredes caindo dos prédios moribundos onde habitam vidas mortas de habitantes duma cidade dormindo e sonhando um delírio final que tarda.
Ruas sombrias de bairros sombrios de gente sombria. Fantasmas percorrendo corredores e becos estreitos, só temendo não ter forças para chegar ao fim do caminho, gente de pó que teme o vento. Gente de papel que teme a agua, o lume purificador. Cidade em chama lenta, cidade que se há-de queimar inteira, enquanto os gritos gemidos sobem pelas paredes tingidas de sangues e urinas secas e ácidas.
Cidade morta que já não se recorda dos dias de antes.
2 comentários:
Ladies and Gentlemen, memorizem este nome: Eileen Barbosa!´
Parabéns, está lindo!
Pô, Obrigada, Mr Guimarães... Fiquei muito contente por teres gostado!
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