Soncent

Soncent

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

O Romance - Capítulo I (mas faz parte do capítulo N do O Romance)

Viu-se sozinha mas foi uma solidão com sabor a liberdade. Agora estava livre, livre do sistema, livre dos pesadelos que a perseguiam, dos gritos que ouvia noite alta. Era um alívio, e para o sublinhar, deu um longo suspiro que serviu para afastar todo aquele passado tenebroso e entreabrir as cortinas do futuro. Que faria? Por agora nada. Tinha dinheiro para sobreviver, tinha sonhos para realizar mas antes, tinha que sair daquele deserto infernal. E a solução era fazer parar o homem que se aproximava com dois pares de camelos ao longe. À medida que se foram aproximando, Eliza reparou que vinha também uma mulher, envolta em vestes azuis que lhe cobriam a maior parte do corpo, mas que deixavam ver os cabelos muito compridos. Quando se mexeu, Eliza teve um choque que a deixou sem respirar por vários segundos: era Lyn, sua irmã, que vinha montada num dos camelos e sorria para... Para Agostin! Pensou que ia ter um ataque de coração, pensou uma data de coisas sem sentido, pensou em cumplicidade, em complot, não pensou, ficou confusa ao extremo e deu um grito enorme, gutural, assustando os camelos e fazendo com que os dois pares de olhos a fitassem. Lyn deu um grito também, Agostin controlou-se mas saltou para o chão, correu para Eliza, atirou-a à areia e prendeu-a pelo pescoço. Lyn foi atrás dele, gritando:
- Solta-a, o que é que estás a fazer?! — Ele olhou para ela, rugiu:
- Se soubesses quem ela é, não me perguntavas, ela é um horror! — Lyn já pegando no braço dele para que soltasse Eliza, declarou com uma voz muito baixa;
- Ela é minha irmã! — Ele estacou como se tivesse recebido um tiro. E era assim mesmo que se sentia; baleado. Olhou para Lyn sem compreender, depois pensou que talvez tivesse visto mal o rosto de Eliza, virou-a mas era ela mesma, e de repente a cara de Eliza era a cara da Lyn, só com algumas diferenças, ele já não estava entendendo nada. E Eliza também, dorida da queda, assustada e aturdida, com a cabeça à roda enquanto as perguntas lhe martelavam a língua “o que é que a Lyn está a fazer com o Agostin?”, e não via possível resposta. Agostin soltou-a mas ficou por perto, olhou para Lyn e rosnou:
- Que história é esta de esta mulher ser tua irmã? Que coisa é esta? Que merda é esta? Esta mulher torturou-me, tirou-me algumas unhas, deu-me choques, acusou-me de crimes que não pratiquei, perseguiu-me quando escapei, tentou matar-me! E é tua irmã, a ti, que eu salvei de morrer? Que é isto? Tu estavas a esperar para me dar o golpe, é isso? Que foi que te fiz? — Eliza aproveitou que ele baixara a guarda e encostou-lhe a pistola às costelas. Mesmo que a história de ele ter salvo Lyn fosse verdadeira, ele era um perigo vivo e não lhe daria oportunidade de estar ao comando. Ordenou-lhe numa voz que quis ser forte:
- O.K. Agostin, vamos pondo as mãos atrás das costas, vamos estar quietinhos que já pomos esta história toda em pratos limpos! Quietinho! —

Sem comentários: