Soncent

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quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Os meninos da ilha - texto não inédito (2001)


As barcas passaram hoje de manhã pelo porto e rumaram para norte. Ficaram os rapazes a olhar para o longe, olhos fixos nas brancas velas, na branca espuma na água.
Bem depois do pôr-do-sol, quando a brisa soprava mais fresca, estavam ainda pasmos, um tanto desolados, sonhando sentir os balanços dos que iam a bordo.

Manardo, o filho do pescador, tinha já a certeza de querer partir. Ver o mundo, conhecer coisas novas, tornar-se no capitão dos mares. Valéria, a mais novinha, tinha a certeza arreigada de que não partiria nunca, mas ainda assim a curiosidade impelia-a a querer soltar as amarras, a ir ver o resto do mundo.
E no entanto, amorosa já de Manardo, adivinhava a dor de vê-lo partir para não mais voltar.

Ruth e Roberto, os gémeos, amarravam-se à esperança de o pai os ir buscar algum dia, livrando-os da pequenez asfixiante da ilha. Depois de terem passado a infância na capital, não se conseguiam adaptar à meia dúzia de ruas que formava a vila.
Queriam livrar-se da monotonia. Da amargura do rosto da mãe, que, abandonada sabendo-se, desistira da vida e mergulhara em si mesma.

Dos lados da praça central, começaram a chegar acordes de batuque. Devia ser o velho Anacleto com a aparelhagem na rua. O calor da música confortou-lhes o coração e levantaram-se, finalmente decididos a deixar partir as barcas.

3 comentários:

Anónimo disse...

Não sei se há discos pedidos, mas não me custa tentar...
Para quando a história do monte cara? Como é que ela lá ficou presa?

Luís Bleck
P.S. - Já tenho o Eileenistico, chegou bem através da associação cabo verdiana.

Eileen Almeida Barbosa disse...

Ué, Luís, anetão achas que o Monte Cara é uma mulher? Aquilo parece-me testa e naris de homem... hehehe
Quem sabe? Pode-se trabalhar numa coisa conjunta...
Já sabes: estou à tua espera para a apreciação de Eileenístico... hehehe

Anónimo disse...

Ups,fui mal entendido, ela "a cara", mas sim acho que é um homem.