No sábado à tardinha, escuro já, saí no vento para passear as minhas cadelas. Não fomos longe. Tinha-as soltas, que é como gostam, e quando vi uma furgoneta branca a aproximar-se a grande velocidade, corri da estrada e fiz-lhe sinal para que abrandasse, porque a Maluska, a mais pequena, vinha correndo também.
Vi como o carro a apanhou, a fez saltar e cair imóvel na estrada. Hesitei entre pegar nela ou deixá-la imóvel até chamar um médico. O coração ainda batia, a língua, azul e os olhos parados diziam-me outra coisa. Quando o médico veio, já estava morta.
Vi como o carro a apanhou, a fez saltar e cair imóvel na estrada. Hesitei entre pegar nela ou deixá-la imóvel até chamar um médico. O coração ainda batia, a língua, azul e os olhos parados diziam-me outra coisa. Quando o médico veio, já estava morta.
O condutor? Insultou-me. Não, não se ofereceu para me levar a algum sítio, não, não disse que lamentava, não, não procurou saber como se chamava a cadelinha que acabava que matar.
Disse-me coisas como "Ela meteu-se-me à frente." E eu, "Sim, mas o senhor vinha com velocidade e eu própria tive que correr para não ser atropelada também", e ele "Velocidade? Qual velocidade? Pensa que eu sou burro??" e eu "O senhor é que sabe a que velocidade vinha, eu, o que sei é que se tivesse sido uma criança, tinha sido atropelada também" e ele "mas tu és parva? Que velocidade? 60 a hora é velocidade?"
Mas eu olhava para a cara dele e sabia exactamente porque é que 60 a hora, dentro da cidade, não é velocidade: ele estava bêbado.
E eu conheço-o, sei que se chama Rolando, sei que ficou um bom bocado dentro do carro a decidir-se se vinha ter comigo ou não.
Mas não fiz nada, que podia fazer, com a minha cadelinha morta nos braços, a pensar em tanta coisa, no que ela não viveu, e que eu poderia ter ficado em casa, que lhe devia ter posto a corrente, que se me atrasasse por dois segundos, isso não teria acontecido, que por um golpe de sorte, ela teria ficado exactamente a meio do carro e estaria ainda viva, teria sido só um susto, e aonde é que a vou enterrar?
8 comentários:
Que tristeza. Lamento muito, Eileen. Abraço grande!
Obrigada, João.
Que tristeza, Eileen, sentidos pêsames meus. Assim que mal acabo meu artigo sobre o carnaval de S.Nicolau,para o artiletra, terminado assim, dolorosamente assim:
-No momento em que finalizo este texto recebo a demolidora notícia do falecimento da filha da minha prima, com apenas 21 anos de idade, indicada para Rainha do grupo carnavalesco de Caleijão (2009), pelo que este ano entendeu-se (o Caleijão) não festejar em memória da ROMIRA SILVA SANTOS a quem dedico este artigo e toda a minha eterna fraternidade…
Hermano Lopes da Silva
Hermano, tristeza maior é a vossa! Ninguém deveria morrer nessa idade... sinto mesmo muito!
Muita pena.
Ainda mais por feres como tudo aconteceu.
PROCESSA O ANIMAL!!!
R.I.P. Maluska
Que maldade!!! Coitadinha, lamento imenso Eileen. As pessoas não têm o mínimo de respeito pelos animais, e isso é uma vergonha.
Jinhos!
Obrigada, gente. Eu já recuperei. A minha outra cadela é que me fica a olhar com uns olhos grandões e não sei o que lhe dizer.
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