Soncent

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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Maluska is gone


No sábado à tardinha, escuro já, saí no vento para passear as minhas cadelas. Não fomos longe. Tinha-as soltas, que é como gostam, e quando vi uma furgoneta branca a aproximar-se a grande velocidade, corri da estrada e fiz-lhe sinal para que abrandasse, porque a Maluska, a mais pequena, vinha correndo também.

Vi como o carro a apanhou, a fez saltar e cair imóvel na estrada. Hesitei entre pegar nela ou deixá-la imóvel até chamar um médico. O coração ainda batia, a língua, azul e os olhos parados diziam-me outra coisa. Quando o médico veio, já estava morta.


O condutor? Insultou-me. Não, não se ofereceu para me levar a algum sítio, não, não disse que lamentava, não, não procurou saber como se chamava a cadelinha que acabava que matar.

Disse-me coisas como "Ela meteu-se-me à frente." E eu, "Sim, mas o senhor vinha com velocidade e eu própria tive que correr para não ser atropelada também", e ele "Velocidade? Qual velocidade? Pensa que eu sou burro??" e eu "O senhor é que sabe a que velocidade vinha, eu, o que sei é que se tivesse sido uma criança, tinha sido atropelada também" e ele "mas tu és parva? Que velocidade? 60 a hora é velocidade?"


Mas eu olhava para a cara dele e sabia exactamente porque é que 60 a hora, dentro da cidade, não é velocidade: ele estava bêbado.

E eu conheço-o, sei que se chama Rolando, sei que ficou um bom bocado dentro do carro a decidir-se se vinha ter comigo ou não.


Mas não fiz nada, que podia fazer, com a minha cadelinha morta nos braços, a pensar em tanta coisa, no que ela não viveu, e que eu poderia ter ficado em casa, que lhe devia ter posto a corrente, que se me atrasasse por dois segundos, isso não teria acontecido, que por um golpe de sorte, ela teria ficado exactamente a meio do carro e estaria ainda viva, teria sido só um susto, e aonde é que a vou enterrar?

8 comentários:

Unknown disse...

Que tristeza. Lamento muito, Eileen. Abraço grande!

Eileen Almeida Barbosa disse...

Obrigada, João.

Hermano Lopes da Silva disse...

Que tristeza, Eileen, sentidos pêsames meus. Assim que mal acabo meu artigo sobre o carnaval de S.Nicolau,para o artiletra, terminado assim, dolorosamente assim:
-No momento em que finalizo este texto recebo a demolidora notícia do falecimento da filha da minha prima, com apenas 21 anos de idade, indicada para Rainha do grupo carnavalesco de Caleijão (2009), pelo que este ano entendeu-se (o Caleijão) não festejar em memória da ROMIRA SILVA SANTOS a quem dedico este artigo e toda a minha eterna fraternidade…

Hermano Lopes da Silva

Eileen Almeida Barbosa disse...

Hermano, tristeza maior é a vossa! Ninguém deveria morrer nessa idade... sinto mesmo muito!

Arsénio Gomes disse...

Muita pena.
Ainda mais por feres como tudo aconteceu.

Anónimo disse...

PROCESSA O ANIMAL!!!



R.I.P. Maluska

Anónimo disse...

Que maldade!!! Coitadinha, lamento imenso Eileen. As pessoas não têm o mínimo de respeito pelos animais, e isso é uma vergonha.

Jinhos!

Eileen Almeida Barbosa disse...

Obrigada, gente. Eu já recuperei. A minha outra cadela é que me fica a olhar com uns olhos grandões e não sei o que lhe dizer.