Soncent

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Metafísico - de Eileenístico

Disse-me que era do Paribe. E isso é onde, perguntei eu com cara de desprezo. Gosto da minha cara de desprezo, é meio sexy, mexe com as pessoas. O Paribe, não conhece? Já falei que não, né? Eu dera para ficar falando brasileiro, é, da convivência, dos livros, disso tudo. Mas da novela não, eu não via novela. Mas minha pronúncia, só podia ser da novela, talvez, de quando eu era pequena….


Queria ter continuado mas esse era um cara orgulhoso, foi logo embora, eu hein? Cadê teu humor, cara? Não tinha humor, mas que bunda mais bonita, pequena e dura… é, cara de desprezo não funciona com todo o mundo… nessa hora, ouvi a música “I’ll go wherever you will go”. Doida por essa música, me lembrava do Enrique, meu namorado meio mexicano, o primeiro com quem estive numa casa, só nós dois, nos amando a qualquer hora, cozinhando, comendo e nos amando de novo… aí ele se cansou, e eu fiquei em fanicos, e ele chutando meus farrapos e me amando nos intervalos… fiquei parada escutando a canção, cantando também, até que um carrão vermelho parou na minha frente e o bonitão de óculos escuros falou tá me esperando?

E eu dei as costas. Todo mundo sabe que todo homem fica bonito de óculos escuros mas depois que mostra a cara inteira, não tem nada não. Meu celular tocando, quando fui atender desligou e eu sem saldo para chamar de novo… era meu namorado, calhava agora, ele vir me buscar, esse fim de mundo é feio pra caramba, bem queria voltar logo, tenho ainda que ir em duas lojas, visitar minha tia… tava indo nesse passeio quando apareceu uma preta na minha frente e falou que era de Cabo Verde e que ela era a escritora que me tinha criado.

Não entendi logo e fiquei pensado se passava para o outro lado do passeio, mas ela me pegou no braço e falou para eu não esquentar, que só estava de passagem, só queria trocar umas palavrinhas. Aí eu falei para ela que quem me criou foi a minha e mãe e ela perguntou logo quem era a minha mãe… aí eu gelei, tentei lembrar e não consegui, aí ela falou não tá lembrando porque eu não pensei nisso, já falei, fui que a criei… sei tudo sobre você e o que não sei, foi porque ainda nem pensei nisso…ela falou para mim e comecei a ter umas tremuras, fiquei nervosa mesmo, de repente tentava rever a minha vida e não conseguia, só lembrava mesmo de ter começado na hora em que eu falava com o moço da bunda bonita… aí ela pegou de novo no meu braço, falou, esquenta não que eu vou indo, sua história vai acabar bem… ainda não pensei mas vai acabar bem… e eu falei para ela, dona, faz meu namorado chegar, então, que eu quero mesmo é ir para casa… e na esquina, apareceu logo uma furgoneta verde e dentro, reconheci meu namorado… bem bonitão, com um sorriso lindo apontando para mim. Quando quis agradecer para a preta, ela já tinha sumido…

17 de Dezembro de 2005

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