(...)
Ah, colchões! Permitam-me desviar-me para essa minha paixão. Sempre gostei de um bom colchão, que me completasse, me preenchesse e sobre mim pesasse. Tive colchões de espuma, de molas e agora, sou apaixonada pelos ortopédicos, respirantes e anti-ácaros. Colchões cheios de nove horas. Que, ainda por cima, são substituídos de quatro em quatro anos. Cinco anos, é o máximo de tempo que uma cama deve passar com um colchão em cima. Mais tempo que isso, ele julga-se dono e senhor, perde a firmeza… uma tristeza! E quando está assim todo mole, sinto mais o impacto dos corpos sobre mim e não gosto. E o Barta’s farta-se de me impor esses impactos.
Para além disso, anda a dar cabo de mim com constantes mudanças. Já me mudou de casa umas três vezes. Mas o pior é que também me muda de cómodos. Para já, já me encostou a todas as paredes do quarto. Não satisfeito, move-me para a sala quando quer impressionar alguém. Não preciso descrever o suplício que é, ter de estar sempre a ser armada e desarmada por esse aprendiz de mecânico, que não sabe respeitar uma boa madeira!
O que ele deveria fazer era doar-me para um seminário e comprar uma reles cama de ferro, mais dada a mudanças destemperadas. Para além de outras ofensas menores. O Barta’s fuma. Não, fumar é pouco. O Barta’s incendeia-se e incendeia-me a mim também. Não se importa de me mandar com as cinzas para cima, de deitar as beatas para debaixo de mim.
Vivo rodeada de tabaco, a minha madeira, que já cheirou a bom verniz, hoje em dia cheira a alcatrão. Tenho manchas por todas as superfícies, pareço sofrer de sarampo. Porque ele, quando se arma em cívico, apaga as beatas no meu rico mogno! Se não cheirasse tanto a alcatrão, eu cheiraria a cerveja pútrida. O Barta’s bebe. Bebe não, encharca-se, e encharca-me a mim também. Com a cerveja que deixa cair, com a cerveja meio digerida que se força a sair. De manhã, nos dias em que vem a Bi-Bia, estou pior que uma cama de hospital.
E a Bi-Bia, excelente pessoa mas preguiçosa que só ela, limita-se a passar-me um paninho com cheiro, em vez de se dar ao trabalho de me limpar como deve ser. Queria ser polida todos os anos, sentir as mãos de um bom carpinteiro trabalhando nas minhas curvas e ângulos. Mas esse carpinteiro nunca vem, estou suja, constantemente a ser armada e desarmada… já só me resta ranger, ranger, ranger, até que me mandem de novo para um sótão. Só não façam de mim, lenha, por favor… só não façam de mim, lenha.
Ah, colchões! Permitam-me desviar-me para essa minha paixão. Sempre gostei de um bom colchão, que me completasse, me preenchesse e sobre mim pesasse. Tive colchões de espuma, de molas e agora, sou apaixonada pelos ortopédicos, respirantes e anti-ácaros. Colchões cheios de nove horas. Que, ainda por cima, são substituídos de quatro em quatro anos. Cinco anos, é o máximo de tempo que uma cama deve passar com um colchão em cima. Mais tempo que isso, ele julga-se dono e senhor, perde a firmeza… uma tristeza! E quando está assim todo mole, sinto mais o impacto dos corpos sobre mim e não gosto. E o Barta’s farta-se de me impor esses impactos.
Para além disso, anda a dar cabo de mim com constantes mudanças. Já me mudou de casa umas três vezes. Mas o pior é que também me muda de cómodos. Para já, já me encostou a todas as paredes do quarto. Não satisfeito, move-me para a sala quando quer impressionar alguém. Não preciso descrever o suplício que é, ter de estar sempre a ser armada e desarmada por esse aprendiz de mecânico, que não sabe respeitar uma boa madeira!
O que ele deveria fazer era doar-me para um seminário e comprar uma reles cama de ferro, mais dada a mudanças destemperadas. Para além de outras ofensas menores. O Barta’s fuma. Não, fumar é pouco. O Barta’s incendeia-se e incendeia-me a mim também. Não se importa de me mandar com as cinzas para cima, de deitar as beatas para debaixo de mim.
Vivo rodeada de tabaco, a minha madeira, que já cheirou a bom verniz, hoje em dia cheira a alcatrão. Tenho manchas por todas as superfícies, pareço sofrer de sarampo. Porque ele, quando se arma em cívico, apaga as beatas no meu rico mogno! Se não cheirasse tanto a alcatrão, eu cheiraria a cerveja pútrida. O Barta’s bebe. Bebe não, encharca-se, e encharca-me a mim também. Com a cerveja que deixa cair, com a cerveja meio digerida que se força a sair. De manhã, nos dias em que vem a Bi-Bia, estou pior que uma cama de hospital.
E a Bi-Bia, excelente pessoa mas preguiçosa que só ela, limita-se a passar-me um paninho com cheiro, em vez de se dar ao trabalho de me limpar como deve ser. Queria ser polida todos os anos, sentir as mãos de um bom carpinteiro trabalhando nas minhas curvas e ângulos. Mas esse carpinteiro nunca vem, estou suja, constantemente a ser armada e desarmada… já só me resta ranger, ranger, ranger, até que me mandem de novo para um sótão. Só não façam de mim, lenha, por favor… só não façam de mim, lenha.
6 comentários:
Lenha, não!
Adorei. E já via a 'cara' daquela cama...
Abraço
Adorei teres adorado!
Duplo abraço!
A minha amiga está cada vez mais refinadamente melhor!
Excelente!
a) RB
O Barta's é um devasso! Não, devasso é pouco. O Barta's é um libertino ao estilo do Pacheco. Lembra-me para te passar A Comunidade do Luiz Pacheco: um dos melhores textos da literatura portuguesa. Bjs. badia.
RB, vou ter que aceitar só em parte o cumprimento, já que é um texto de 2006...
Tiago, lembrar-te-ei sim...
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