Soncent

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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Um artista!

Para Nhonhô Hopfer Almada (que cedeu a caneta)
Para o Jorge Humberto (que sugeriu a história)


Soubemos que o cantor e poeta Salazar estava em Cabo Verde e não queríamos perder a oportunidade de o trazer à Praia, para um concerto único. Com muitas cunhas, conseguimos convencê-lo a vir tocar na capital e badalamos a sua vinda por todos os cantos. Ouvíamos as suas canções na rádio, sabíamos dos seus novos discos mas por cá nunca ninguém o tinha visto ao vivo e imaginávamos que nos viesse brindar não só com os seus maiores sucessos, mas também com historietas por trás das suas composições. Os bilhetes venderam-se como pães.

Visto que ele tinha vindo a Cabo Verde por questões familiares, a banda não o acompanhara, mas conseguimos reunir um grupo de músicos locais com quem ele ensaiou uma única vez, cinco horas antes do concerto. O espectáculo começou bem, a casa estava cheia, e ele não nos decepcionou – era um verdadeiro entertainer, contou montes de histórias sobre isto e sobre aquilo, toda a gente se ria e aplaudia.

O espectáculo estava pois a ser um verdadeiro sucesso até à hora em que ele fez um solo com a guitarra, cantando uma morna muito sentida, de olhos fechados. O guitarrista Manel Santos dedilhava a guitarra tentando acompanhar e devo ter sido a única pessoa a reparar que de vez em quando, o cantor abria os olhos e falhava uma nota. De repente, à frente do microfone, gritou para o Manel “Bo tita pará quel amerda ou un tem que quebrob el na testa?!”

O público agitou-se nas cadeiras mas ficou em completo silêncio. Ele falara em crioulo de São Vicente mas ninguém falhara o sentido das suas palavras. O Manel parou imediatamente e fez-se todo vermelho na sua cara de lua cheia.
O cantor retomou a morna lá onde a tinha suspendido, cantando com igual emoção e sentimento. A ovação foi a maior de todas as outras canções. Era um artista!

8 d Maio de 2010

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