A Praia acordou com chuva esta manhã. Senti pingos na cara, pensei que fossem do meu sonho. Só quando me levantei me dei conta do cheiro de terra molhada. Que sempre adorei.
Tempos de chuva sempre me inspiraram passeios pelo campo. Quando era adolescente, começava a chover e eu saía logo de casa. E pensava: ai se pudesse ir agora passear pelos lados da estrada do Calhau, ou da Baía, ou da Ribeira do Julião. Variadíssimas vezes, materializava-se um amigo meu, bem mais velho, num jeep em que ele abria a porta e me dizia "Entra!" E lá íamos nós.
Não sei ele lia a minha mente ou se a chuva lhe dava os mesmos impulsos. É que o jeep nem era dele e eram horas em que ele devia estar a trabalhar. Tínhamos o mesmo espírito de aventura de quem troca um sofá e chocolate quentes por uma tarde de trabalhos, a apanhar vento e chuva, a enterrar as rodas ou a bicicleta na lama.
Anos depois, acampada em Santa Luzia, com a tenda a tremer ao vento, um pedregulho enorme a querer cair sobre ela, areia nos pés e medo de ir fazer xixi sem lanterna, não fosse um caranguejo albino dar-me uma tesourada, dei-me conta que o meu espírito de aventura não só tem minguado, como cede por completo à porta de uma casa-de-banho e a um colchão ortopédico.
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