Ainda sou do tempo em que se ia comprar pão à padaria, todos os dias, com um saco de pano bordado carinhosamente. A padaria era um lugar que cheirava imensamente bem, onde os empregados, atarefados, tinham sempre trocos e tocavam nas moedas com mãos de farinha, as mesmas com que enchiam os nossos sacos com brindeiras, pães de trança, barões, suzudas, pães de forma, de canela, de custard, de leite, e ainda vínhamos para casa a mastigar uma moreninha. Com sorte, nas manhãs de sábado, encontrava-se um pão com chouriço - que delícia!!
Com as suzudas, faziam-se casadas: era uma suzuda aberta ao meio com doce dentro. Podia ser de leite ou de goiaba.
As brindeiras levavam uma mistura de corned beef e manteiga na cantina do Quartel, onde estudei o ciclo preparatório e custavam a módica quantia de 10 escudos. E uma supirinha, por favor!
Os barões exportavam-se para a Praia. A melhor bolacha de trigo era da Fábrica Favorita, eu comprava mais no Nha Cleto. O mais simpático era o Sr. Lucas, que também tinha deliciosas donetes. O meu pai trabalhou uns anos na Fábrica Sport e uma vez em que o fui visitar, tinha eu 4 ou 5 anos, ele disse-me "Vou-te levar para uma zona muito, muito fria" e levou-me para a zona dos fornos, onde quase não se podia estar. Ele levantava-se bem cedo para ir comprar pão de trigo para o pequeno-almoço. Crocantes, quentes o suficiente para derreterem a manteiga.
Depois, muito depois, apareceram os croissants, as baguetes, as carcaças, as broas de milho, em sacos de plástico, já prontos para levar para casa, nos super-mercados... Não sei para que carga de farinha se continuam a bordar sacos de pão...
1 comentário:
Ainda sobrevive um modesto saco de pão de fazenda em minha casa!
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