Maria, descobriu
Marie, uns tempos depois de chegar às ilhas de Cabo verde, é o nome das
empregadas domésticas e da maior parte das mulheres com mais de cinquenta anos
no país. Marie começou por querer impor às pessoas a pronúncia francesa do seu
nome. Depois desistiu e tentou, sem grande sucesso, ser chamada pelo apelido.
Era Hensel. Marie Hensel, alemã de Colónia, que tinha vivido em França e no
Burundi e vinha agora trabalhar para o gabinete de desenvolvimento das Nações
Unidas em Cabo Verde. Mas essa não foi a sua única dificuldade.
A sua primeira
impressão do país foi-lhe causada pelo ar. Tinha voado durante cinco horas e
tal. A sua canseira estava mascarada por uma excitação comum, a que sentia
sempre quando visitava um país pela primeira vez. Quando se aproximou da porta
do avião para descer, respirou aquele ar pela primeira vez. Pesado. Quase
físico. Comparado com o ar rarefeito do avião, este do aeroporto era húmido,
ligeiramente perfumado. Sabia que tinha chegado a um país seco. Tinha lido tudo
o que havia para ler sobre as 9 ilhas habitadas por meio milhão de mestiços, e
mais uma ilha deserta e uns quantos ilhéus que lhe despertavam a imaginação.
Sabia da pobreza, da boa governação, da grande evolução que o país tivera desde
a sa independência. Sabia que a estação das chuvas estava ainda distante.
Desceu as
escadas do avião segurando a mala Louis Vuitton numa mão e a pastinha do tablet
na outra. Marie sabia ser alemã no porte atlético, nos longos cabelos louros,
nos olhos ora cinzentos ora azuis. Mas tinha o gosto refinado por roupas e
acessórios das francesas. O passaporte diplomático de pouco lhe serviu. Esteve
uns quantos minutos na fila de passageiros à espera de passar a fronteira. O
polícia não a cumprimentou mas sorriu quando ela lhe falou em português com um
certo sotaque brasileiro, culpa do seu professor de português. Ela tinha noção
de que não soava como a Marisia, a sua cantora de fado preferida, mas cujas
palavras ela mal entendia.
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