Queria ter roubado a chave algures e me esgueirado quando ninguém estivesse a ver, porta dentro, pela tua cova alcova cabana terra santa, nua.
Queria ter-te visitado na tua sala vazia. Queria ter-me sentado na tua cadeira esguia e sentido o peso de cada pisa-papel e de cada caneta tua. Queria ter aspirado o teu cheiro nas teclas e lido as tuas letras bonitas nas folhas bem alinhadas em cima da escrivaninha. Queria ter percorrido com o dedo, o tampo brilhante e limpo, apesar da tua ausência. Pensado na tua pele leitosa nele roçando e comungando.
Queria ter pasmado sem sentir escorrer os minutos, no quadro na parede, pensado na vida daquele senhor tal como pensas quando estás apoquentado.
Queria ter violado, sem violência, penetrado sem maleficência, no canto da tua intimidade e sentido assim, a tua presença.
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