Soncent

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quarta-feira, 26 de julho de 2006

Tempos assim - como hoje

 
Acordamos um dia e o mundo tem uma cor diferente. O céu está tingido de tons de cinzento, o mar desistiu do azul, o Sol já não é amarelo, sequer é o senhor do dia. O verde dança nas árvores, num ballet que o vento orquestra. Há quem se deprima com estes tempos assim. Eu adoro. Tempos assim pedem passeios com mascotes, pedem janelas rasgadas, pedem crianças a brincar, pedem sofás e cobertores, pedem até filmes e chocolate quente. Tempos assim pedem-me que olhe para dentro, que me sinta mais.
 
Ao mesmo tempo, trazem-me uma melancolia fina e alegre, uma certa saudade de toda a gente. E depois, mais aguda, uma saudade da criança que uma vez fui. Tanto me dão para querer estar à beira-mar, cujo fulgor é sempre outro quando está o tempo assim; como me dão para querer subir, chegar mais perto desse céu que está mais baixo. Tocá-lo. Sentir passar por mim as nuvens, quase desaparecer num nevoeiro das terras altas.

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