Soncent

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segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Teorias I

Tenho reparado que viver à grande e à francesa enquanto se é criança e adolescente raramente dá bons resultados quando se chega a adulto. Vi muitos dos meus colegas a quem eu invejava o bem estar - que se traduzia em muitas prendas ao Natal e aniversário, muita roupa de barbie e tartaruga ninja - a não fazerem nada de jeito com as suas vidas. Mesmo a malta que foi estudar com bolsos recheados tende a passar mais tempo a "dá pa dod" do que os que vão com os tostões contados. A minha teoria é: quem cresce a contar tostões tem depois de adulto uma relação bem melhor com o dinheiro e sente-se satisfeito com menos - ou simplesmente com a realidade.

Quem cresce a ganhar tudo o que pede aos pais parece ter maior dificuldades em aceitar períodos de menos desafogo, e em encarar os estudos como algo que tem que ser feito. Não me parece que é por acaso que a malta que vai estudar ao Brasil, não gosta e vai estudar a Portugal, não se adapta e vem experimentar a Universidade em Cabo Verde, não se dá bem e vai para as Canárias - é sempre filha de gente com posses.

Não estou a sugerir, com isso, que os pais não tentem conquistar desafogo económico, mas apenas que criem os miúdos com a noção do quanto custa ganhar honestamente e de que lá porque os pais trabalham, não é razão suficiente para vir estourar tudo.

4 comentários:

Anónimo disse...

penso que de facto o grande desafio dos pais é sem dúvida deixar um legado de valores e certos princípios de vida aos filhos.. se conseguirem, é uma grande vitória!!!
há quem os deixe e tb há o oposto...

Anónimo disse...

Eileen, tu és aprova viva que a tua teoria não está certa, tu apesar de tudo fazes parte da elite das crianças da tua ilha, poucos foram os que tiveram as possibilidades que tu tiveste, que fizeram as viagens que tua fizeste, que moraram nas casas que tu moraste...podes não ter tido todas as barbies que quiseste mas tiveste barbies, moraste em casas que 99.99% das crianças da tua ilha nem sequer sonharam, pudeste frequentar o jardim de infância mais caro da tua ilha onde toda a elite de S.Vicente tinha os seus filhos...Terás a consciência que se alargares o teu leque de referência , tipo, para além de Che Guevara e da Morada, até Vila Nova, Cruz, Ribeirinha, Campim... mesmo Monte Sossego verás o quanto foste mimada e paparicada ... Poderás sempre dizer , “ah , os tais a que me refiro foram mais paparicados do que eu!” mas estes também hão-de encontrar quem foi também mais paparicados que eles... A questão nada tem que ver com dinheiro, tem que ver com educação e com a própria personalidade da pessoa, por serem “ ricos” ( e digo ricos com muitas aspas , pois tu que já viveste em Pt terás dado conta o quanto os nosso ricos não passam de coitados , mas enfim...) podem se dar a luxo te tentar e tentar, se não o fossem estariam já numa loja de chinês e nem se escreveria uma linha sobre o seu fracasso, pois dos pobres bêbados, drogados, preguiçosos, cabulas , ninguém fala, dos “ricos” : « bo sabe?! Flano de tal filho de Director de X , el ca ta faze nada, el ba pa Brasil, el bem...blablabla» ... Há um prazer mórbido em se congratular com a desgraça dos ricos e procurar explicações para esta na sua riqueza , não digo que seja esse o sentido da tua crónica mas ela não deixa de reflectir a bocas ( algumas com fundamento) lá da terra.
E já agora parabéns pelo teu livro.

Eileen Almeida Barbosa disse...

Sabes, AP, para eu explicar as coisas tal como são, teria que entrar em pormenores da minha vida, tal como fizeste, mas não me apetece expô-la na internet. Mas mantenho o que disse: a sensação de desafogo aumenta as probabilidades de se criarem irresponsáveis.

Anónimo disse...

Peço desculpas se de alguma forma fiz-te sentir devassada na tua vida privada, mas na verdade o que de ti disse é de conhecimento público ( ou pelo menos do pequeno público lá da terra), não faço a mínima ideia da tua vida mais privada das facilidades ou dificuldades que tiveste, só quis chamar-te atenção para o facto de, apesar de quaisquer dificuldades que tenhas tido na tua vida, fazes parte, sem dúvida, do pequeno grupo de privilegiados da tua ilha , podes não ter sido a mais privilegiada, mas sem dúvida alguma que não te podes comparar com a maioria das pessoas do teu pais. E na verdade, se procurares bem, entre as pessoas da tua geração ou três anos mais velha ( a que conheço melhor) hás-de ver quantos dos que se formaram são filhos de carpinteiros, empregadas domésticas, agricultores, e já agora a proporção com os que são filhos de engenheiros, doutores, comerciantes e afins, funcionários públicos...aliás, não sei se nalgum momento estudaste alguma coisa de economia, mas se sim, hás-de te lembra da Armadilha da Pobreza (= a insucesso), os pobres tende a perpetuarem a sua condição e os “ricos” tende a também perpetuarem a sua ( os factores são vários...), e tal teoria não encontra em Cabo Verde uma excepção, muito pelo contrário. O que fazes, com o devido respeito, é com base numa excepção ( até podem ser muitos os casos) construir uma regra, tal como alguns « sérios cientistas sociais» na América defenderam que os pretos tinham uma tendência natural para o crime, prova disso era que a maioria dos presos eram negros ( o que de facto era e é verdade)....mas por muito grande que seja a excepção nunca se deve cair na tentação de torna-la uma regra. Não conheço o teu leque de relações, mas com toda certeza se conviveres de forma próxima algum tempo com as pessoas( não uma ou duas) de zonas como Ilha d´ Madeira, Ribeira de Craquinha e similares hás-de concluir que a tendência para o desleixo é algo transversal aos estratos sociais, não havendo de modo algum uma prevalência entre os ditos “rico”.