Soncent

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sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O Romance - Capítulo V - O início III

Já em casa, arrependeu-se de não ter ficado mais tempo no Bureau e relido as informações que ele lhe tinha dado. Estava agora em pulgas para voltar no dia seguinte, pois tinha a sensação de que havia uma ponta solta na história dele mas já não sabia qual.
Na manhã seguinte, acordou cheia de dores de cabeça, que lhe acometiam de tempos a tempos. Meteu-se num banho frio, e engoliu dois comprimidos, saindo em seguida para a Sede. Acabava de chegar quando Bob, o manco, dirigiu-se-lhe no seu andar irregular, de olhos arregalados e confiou-lhe:
- Íris, Agostin já cá não está.
- Como assim? Evadiu-se?
- Não, não. Vieram ordens superiores para o libertar.
- Deve estar a brincar! Ordens de quem?
--Ah, sabe como essas coisas são! Ordens do escritório central, mas levaram-no de madrugada, só cá estava o pessoal inferior. – Íris apertou os dentes de raiva. Ela não o tinha feito falar o suficiente, nem um quarto do que ele sabia, e lá vinham ordens para o libertar! Tinha a certeza de que era uma armação qualquer. Puxou os óculos escuros e atirou-os ao chão e não contente, pisou-os ainda. Manco afastou-se um metro e tal e fingiu procurar qualquer coisa nos bolsos. Nunca sabia o que fazer quando Íris tinha os seus ataques de nervos. Ela foi-se recompondo à medida que os pedaços de vidro eram convertidos em farinha e disse por fim, numa voz contida e tensa:
-O Quizo está cá? Vá lá ver se me pode receber! — Manco afastou-se devagar e fez sinal a um dos ajudantes para recolher os restos dos óculos. Íris ajeitou o cabelo e seguiu atrás de Bob. Se Quizo não a quisesse receber, nem sabia o que lhe faria! Recebeu-a afinal. Recebeu-a com um sorrisinho bailando-lhe entre a barba bem feita, um sorrisinho irritante que a fez tremer de raiva. Ela lançou-lhe logo um:
-Então, que se passa? Dão-me um elo de importância e antes que eu o esprema, tiram-mo outra vez? — ele indicou-lhe a cadeira mas ela preferiu ficar de pé. Ele acendeu um charuto e disse-lhe ainda com o sorriso nos lábios:
-Foi um erro! Ele afinal não estava metido em coisa alguma. Não havia necessidade de o manter cá. Já lhe pedimos desculpas em seu nome. Você foi particularmente mázinha com ele! Tinham as pontas dos dedos maltratados!
-Nada que não se cure. Mas não me venhas com histórias de que ele não está dentro. Pareceu ter tudo o que é preciso!
--Mas não. Ele foi libertado, as desculpas apresentadas, aconselhámo-lo a não contar o que aqui acontecera, demos-lhe uma caixa de champanhe para que se esqueça mais rapidamente e embarcamo-lo. Pronto!

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