Soncent

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terça-feira, 16 de outubro de 2007

O Romance - Capítulo VI

- Não acredito! Estava claro que ele tinha uma história prontinha para nós, e se a tinha, é porque tinha razões para prever que seria interrogado. O que é que se passa afinal?
- Íris, não tentes saber mais do que te convém, se te digo que ele está limpo, aceita, e esquece que Sima esteve cá!
- Ah... Sima... Sim, realmente há razões para me mandares esquecer. Se o Agostin que não conhecias de repente é “Sima”, pronto, olha...
- Que queres tu dizer? Aliás, não interessa, estás a tomar o meu tempo, vê se te ocupas de alguma coisa, ou toma o dia livre, como quiseres!
- Tomo o dia livre? Pensas que me compras também, a um dás champanhe, a mim vens com folgas, pronto. Tu é que sabes! —virou-se para se ir embora, mal contendo uma outra crise de nervos, mas parou e disse ainda de costas:
- Vou tirar o dia livre, sim, e se calhar, sempre que me der muita vontade, faço-te outras perguntas indiscretas, a ver se resulta!—saiu porta afora e voou à casa de banho das mulheres. Manco veio atrás mas ela lançou-lhe um frio “Esquece!!” e ele ficou a meio caminho. Íris despiu-se rapidamente e envergou o vestido comprido que trouxera, calçou os mocassins e soltou o cabelo, saindo do Bureau sem olhar para trás. Estava zangada, sentia-se frustrada, com o facto de o terem solto, de não a terem posto dentro do assunto, de não o ter revisto. Entrou no Toyota, arrancou em fúria, foi acelerando pelo caminho, maldizendo toda a gente. Chegando ao primeiro cruzamento, inverteu a marcha, parou o carro em cima do passeio, entrou no Bureau, dirigiu-se a Bob e lançou a voz de comando:
- Dá-me o dossier do Agostin. Não te atrevas a dizer-me não.—Manco ainda pensou, realmente em contar-lhe que o dossier original tinha sido entregue a Quizo. Mas tinha uma cópia não oficial e decidiu entregar-lho.
- É só um momento, Miranda. Mas é uma cópia, percebe, o original foi levado.
- Foi levado? É incrível! Bem, dá-me lá o que tiveres. Diz-me, faltam muitas coisas na cópia?
- Nem por isso. Tem menos fotos, menos pareceres, talvez, mas no geral, está mais ou menos a mesma coisa. Pode assinar este recibo?—ela olhou para ele fuzilando e ele escusou-se:
- É o meu trabalho, Miranda, se não o faço, põem-me na rua e sabes que este serviço não dá cartas de apresentação!
- Está bem, está bem, mas vou devolvê-lo, não te preocupes!
Saiu agora calmamente do edifício, meteu-se no carro e rumou para casa, cantado uma morna antiga. Tinha a certeza de que acabaria por descobrir Agostin e saboreava desde já o prazer de lhe deitar a mão. Uma vozinha perguntou-lhe então “que é que vais fazer quando o alcançares, se foram os próprios serviços que o soltaram?” Era uma pergunta pertinente mas ela resolveu deixar para depois a resposta. Queria apanhá-lo e pronto.

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