Este foi o meu primeiro conto, creio. Ditei-o à minha irmã Nádia, em 1994, e ficou uns anos perdido entre os ficheiros do Professional Writer do computador da minha mãe.
"Estava sentada naquela cadeira, na mesma cadeira onde se tinham sentado o meu pai, o meu avô e o meu bisavô e onde antes se teria sentado o rei de Espanha.
Uma cadeira do século quinze, de mogno, sem um único caruncho que contasse a sua longa vida e a sua travessia pelos sete mares.
Dizia eu, estava muito bem sentada na cadeira que descansava no sótão da tia Filipa, quando aquilo aconteceu: o rato, que até ali tentara saltar para o que sobrara de uma cortina que em tempos teria sido vermelha mas que hoje em dia era um trapo esbranquiçado, violentamente saltou um pouco mais alto e abocanhou, agarrou e segurou o tecido.
E foi aquela confusão! O ferro que segurava a velha cortina caiu em cima da pobre Xerica, a gata de estimação da tia Filipa. Levantou-se, de um salto, a assustada bichana que, miando sem cessar, voou para cima da enorme mola em frente à porta, mola essa que tinha sido de um desses brinquedos que veem numa caixa que ao se abrir, assoma-se uma cabeça de um animal qualquer, e faz as pessoas assustarem-se.
Entretanto, a minha tia, que ouvira o barulho do ferro da cortina ao cair, abriu a porta de repente, ao mesmo tempo em que Xerica, impulsionada para a frente pela mola, lhe caía de garras e dentes abertos à cara. Com um grito, tirou a gata da cara, arremessando-a três ou quatro metros à frente. Como o rato, ao ver e ouvir o ferro cair, tivesse fugido para o seu lugar e tia Filipa, ao entrar, tivesse chutado sem ver a desgraçada mola, a única e suspeita fui eu!
- Xana, que vem a ser isto?
- Ta... Tia... Não fui eu! Foi...orato... Digo, o rato!
- Não mintas, Xana! Um rato não atira uma gata à cara de ninguém! Foste tu! Ainda estás zangada por eu te ter posto de castigo?
- Não, tia! O rato saltou para a cortina, o ferro caiu em cima da Xerica, que saltou para a mola, que lha fez saltar à cara..."
Agora que releio isto, fico a pensar na velocidade supersónica da tia Filipa...
3 comentários:
Ha Ha Ha, lembro-me bem desse conto.
Num domingo qualquer, esperando um avião dos Tacv para o Sal, a aeromoça de "terra" me disse entre os dentes "ó senhora, bocê tem voo agora é sô via Praia." Sai da sala de espera mal humorada, gritando no peito que fiz eu para ir "espancar" na capital, essa coisa de sair dos vincos habituais que nos deixa desemparada...e olhando a vitrine da lojinha (sem vendedora), vi um livro côr de laranja e preto. Entrei sempre mal-humorada, a vendedeira que estava "gatchod" debaixo do balcão a fazer não sei o quê e pedi:
"Podes me dar esse livro ai?"
Era para passar o tempo e fiquei tão entusiasmada a ler o Eileenistico que o tempo passou a voar com o livro. As linhas refletem as cores e os perfumes de Mindelo. Não esperava tanta poesia, gostei do que li e espero ler mais outros...
Moreia, li o seu comentário com muita emoção e fico muito, muito agradecida por partilhar comigo (connosco), as suas impressões do livro! Obrigadão e um forte abraço!
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