Então, o que foi que mudou?
Primeiro, de costume, vou de avião. Um meio de transporte decente, que não cheira a nada, que embora suba nas alturas, não balança, às vezes treme mas não faz ondas. Por oposição, um barco é um barco e a palavra já diz tudo: tresanda a gasóleo queimado, as cadeiras são de plástico, o chão brilha de gordura, a carga está à vista, e faz por nos tirar da nossa zona de conforto, nomeadamente, fazendo por nos tirar coisas do estômago. Enfim, um barco. Vejam a forma como temos que abrir a boca para o pronunciar. Só isso é prenuncio de coisa má.
E foi de barco que arribei à ilha do Maio, numa sexta feira pouco depois do pôr do sol, vendo o cais ficar mais próximo e pensando que alguma forma haveria de desembarcar se toda a gente, toda a vida, tinha lá desembarcado.
Ah, pois: esperam que uma onda aproxime o barco, agarram-te debaixo dos braços com um saco e atiram-te para os braços do outro tipo que nos espera em terra firme. E pronto. Não foi desta que caímos entre o barco e o cais e fomos feitos puré.
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