Soncent

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sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Memórias a propósito

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Em toda a ilha de São Vicente, o carro mais precioso era o da minha mãe.

Por essa razão, não havia hipótese nenhuma desse bendito carro ir à Praia Grande ou à Baía das Gatas durante o festival, de maneira que com sorte, ela dava-me uma boleia até à Rotunda da Ribeira Bote e aí, eu tinha que me acotovelar contra muito boa gente para conseguir entrar numa hiace rumo à Baía.

Apanhava de tudo nessas hiaces. Depois da entrada um bocado selvagem, nós que tínhamos vencido a disputa sentávamo-nos todos muito juntos e já nos permitíamos alguma camaradagem.

Uma vez, a meio do caminho, alguém acendeu a luz do tejadilho e disse "Bar aberto!" Circulou uma garrafa de grogue. Depois a mesma voz disse "Bar fechado" e apagou a luz.  Mais um bocado, voltou a abrir o bar e de novo a garrafa circulou.

Passado um momento, ouvíamos já a primeira atuação do Festival: a viúva do Baltazar Lopes cantava "nha manel junquim nha manel do diach" e todos nós dentro da carrinha fazíamos coro "olé lé lé".

Não preciso de vos contar do meu sorriso no escuro.
 
(Foto da net)

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