(...)
- Que o quererá conhecer. Ela sabe que tu existes, sabe que não durmo com ela.
- Acho que já sei porque é que tenho tanto ódio. É porque só conheço homens bígamos…
- Vamo-nos deitar.
- Hoje não me apetece. Vamos passear.
- A esta hora?
- Sim, vamos passear.
- Sabes que não posso.
- Então vai-te embora. – Ele olha para ela a adivinhar-lhe a seriedade. Sabe que nem sempre que uma mulher lhe diz para se ir, é isso mesmo que ela quer. Vê uma mágoa tão grande que se decide a arriscar um passeio com ela.
- Vais vestida assim? – Ela olha para ele, surpresa. Ele sabe imediatamente que tomou a decisão acertada. Vê-a atarantar-se pelo quarto enquanto enfia um casaco e umas botas. Nunca as tinha visto. Pensa que afinal não se conhecem assim tão bem, embora ele lhe conheça todos os suspiros e o exacto momento em que ela dará um único grito e cairá meio desmaiada sobre ele. Saem para a noite. Mariana está radiante e vai dando pequenos pulinhos pela alameda.
- Chamar-lhe-emos Octávio Jorge, papá.
- E se for uma menina?
- Se for uma menina, largo-te da mão.
- E porquê?
- Não quero que uma menina veja a mãe nestes preparos.
- Que preparos?
- Não quero que uma menina cresça a ver a mãe apenas amante do homem que ama. – Ele sente uma dor aguda no peito. Apetece-lhe abraçá-la, convencê-la, com um só gesto, que é mais, muito mais que apenas a sua amante.
- Sabes que és mais do que a minha amante.
- Só se for a partir de agora! – É verdade. Ele só se dera conta de que queria que ela fosse mais do que isso agora. Que complicada é a vida! Que farão eles com um bebé agora? Ele já tem filhos, todos crescidos.
Anos depois, de a bebé ter nascido, ele se ter separado e passado a viver com ela, ela diz-lhe, numa noite de programas de televisão sem interesse:
- Há uns anos não te importavas de acordar à mesma hora que eu, só para me dares um beijo e voltares a adormecer. Agora brigas se te abraço durante a noite e no fundo, gostarias era de sugerir que dormíssemos em quartos separados, só porque tenho que estar no trabalho uma hora antes de ti.
- Acho que já sei porque é que tenho tanto ódio. É porque só conheço homens bígamos…
- Vamo-nos deitar.
- Hoje não me apetece. Vamos passear.
- A esta hora?
- Sim, vamos passear.
- Sabes que não posso.
- Então vai-te embora. – Ele olha para ela a adivinhar-lhe a seriedade. Sabe que nem sempre que uma mulher lhe diz para se ir, é isso mesmo que ela quer. Vê uma mágoa tão grande que se decide a arriscar um passeio com ela.
- Vais vestida assim? – Ela olha para ele, surpresa. Ele sabe imediatamente que tomou a decisão acertada. Vê-a atarantar-se pelo quarto enquanto enfia um casaco e umas botas. Nunca as tinha visto. Pensa que afinal não se conhecem assim tão bem, embora ele lhe conheça todos os suspiros e o exacto momento em que ela dará um único grito e cairá meio desmaiada sobre ele. Saem para a noite. Mariana está radiante e vai dando pequenos pulinhos pela alameda.
- Chamar-lhe-emos Octávio Jorge, papá.
- E se for uma menina?
- Se for uma menina, largo-te da mão.
- E porquê?
- Não quero que uma menina veja a mãe nestes preparos.
- Que preparos?
- Não quero que uma menina cresça a ver a mãe apenas amante do homem que ama. – Ele sente uma dor aguda no peito. Apetece-lhe abraçá-la, convencê-la, com um só gesto, que é mais, muito mais que apenas a sua amante.
- Sabes que és mais do que a minha amante.
- Só se for a partir de agora! – É verdade. Ele só se dera conta de que queria que ela fosse mais do que isso agora. Que complicada é a vida! Que farão eles com um bebé agora? Ele já tem filhos, todos crescidos.
Anos depois, de a bebé ter nascido, ele se ter separado e passado a viver com ela, ela diz-lhe, numa noite de programas de televisão sem interesse:
- Há uns anos não te importavas de acordar à mesma hora que eu, só para me dares um beijo e voltares a adormecer. Agora brigas se te abraço durante a noite e no fundo, gostarias era de sugerir que dormíssemos em quartos separados, só porque tenho que estar no trabalho uma hora antes de ti.
(...)
2 comentários:
Mais uma belíssima "short story", como sempre muito bem (d)escrita.
Vá lá, abalance-se a obra de outro fôlego...!
Um reparo: coitado do nascituro, que nem tido nem achado foi na escolha do nome! Octávio Jorge? Credo!
E uma reflexão final: "O que a vida apresenta de pior não é a violenta catástrofe, mas a monotonia dos momentos semelhantes; numa ou se morre ou se vence, na outra verás que o maior número nem venceu nem morreu: flutua sem norte e sem esperança" (Prof. Agostinho da Silva)
a) RB
AH, RB, obrigada... já estou a abanar a cabeça, quem sabe a seguir o corpo segue o movimento e assim, de pequenos balanços, nasça um com força mesmo para a tal obra...
Abraço abanado!
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