Soncent

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quarta-feira, 3 de março de 2010

Bisca - I Traduzido, adaptado, vilependiado?

Telefone tocá e nha secretária, que un tava ta cabá de espantá pa terceira vez quel dia, atendê que um voz de tchor e sem profissionalismo nenhum. Ness meio tempo, sineta tocá e un Perguntá era quenhê. Na meio de uns barulho de camião ta passá, un uvi um voz grossom ta dzem que el cris falá ma Janaína. Un perguntal log se assunto era ma mim: mi ê que ê jurista dess gabinete. El dzem que sim. Un fcá que cara de sagent na reserva: un tinha um mar de expedientes pa dá. Mas pront, lá um dzel pa sbi - un ta cobrá pa cada consulta, nê?

Costa assim, el somá: era um tia fortona, cuns mama de não sei quê, grossa moda um elefante. Un pensá dentre de mim: el parcem mais feia na interforne!
O telefone tocou e a minha secretária, a quem eu dava o terceiro espanto do dia, atendeu. Na hora, a campainha da porta retiniu, aguda e inoportuna e pelo interfone, perguntei quem era. Entre muitos salamaleques, uma voz de trompete afirmou querer falar com a minha secretária. Mas perguntei: é para mim? Sou o jurista. Era. Fiquei com cara de sargento na reserva. Tinha ainda uns expedientes para dar nesse dia. Pouco tempo depois, lá estava a dona da voz de trompete: era uma matrona, mamalhuda, absolutamente elefantina, ligeiramente estrábica. Parecera-me mais feia ao interfone.

Não o saberei descrever. Ao levantar aquela carga que tinha à frente, aquelas mamas pesadonas e enormes, para respirar, como que lhe saíam ruídos cavos das narinas. Mas ainda assim, possuía algum encanto, mesmo à primeira. Aproximou-se com a mão polpuda estendida. Um aperto firme e breve, a palma macia e húmida.

Pedi-lhe que entrasse para o meu gabinete e se sentasse. Fê-lo delicadamente mas ainda assim temi pela cadeira, que não era muito robusta. Fechei a porta e sentei-me à sua frente. Naquela voz de trompete, começou:

- Sr. Dr., vim expor-lhe um caso. Mas temo ter que o maçar, antes, com uns pormenores sem os quais receio que não compreenda a história…

- Sr. Dr., un bem pô bocê um problema ma un tem que pô bocê uns dôs bonê pa bocê entendê esquema...


- Não se acanhe. Estou aqui para isso mesmo. Por favor, esteja à vontade.

- Ca bocê preocupá. Foi ta uvi cliente que Germano ranjá ideia pa ses livre!

- Pois muito bem, não estarei com rodeios. Trata-se de uma situação de disputa. Eu e um senhor empresário, dono de uma frota de camiões. Temos um litígio. É, na verdade, uma coisa simples, a que estou acostumada. Mas este senhor tem coisas contra mim. Não me convém negociar directamente com ele. Mas ele exige-o ou não resolveremos o caso.

- Enton bocê prepará. Assunto ê o seguinte. Ta que um flón ta crê pom ta conxê dinis sô mod el pdim e un ca dal. Ma amigos, amigos, dnher à parte!

- Mas a senhora não o quer fazer directamente, é isso?

- Normalmente, não me envolvo nestas situações, tenho empregados para isso. Mas este senhor, a que chamarei Nino, insiste em negociar directamente comigo… no entanto é uma questão pessoal, bem o sei…

- Como assim?


- Bom, é por isso que tenho que lhe contar o que aconteceu… conto com a sua discrição, Dr.!

- Com certeza, minha senhora, com certeza. – Mal preparado estava eu, no entanto, para o que estava prestes a ouvir! E se o consigo agora transcrever, é apenas graças ao meu fiel gravador, que por descuido, eu deixara ligado. Ela começou naquela sua voz de trompete, agora um pouco mais baixa, por prudência:

-Mal preparod un tava pa bonê que quel tia pom, e como nunca se sabe, un ta bai log ta pô gravador na stand bai! Manera que dpos um pessoa ta lembrá de pormenores pa bem contá bsot?

- O Nino foi em tempos meu conhecido. Conheci-o numa mesa de jogo – bisca. Eu costumava jogar num bar bem arranjado, na rua de Lisboa. Ele apareceu lá um dia e embora já o conhecesse de vista, nunca tínhamos trocado uma palavra.

- Un tava jgá batota na Rua de Lisboa, móda tud bom cidadão dess país. Um dia el parcê na local.

Nesse dia, após ver o jogo um bocado, veio jogar contra nós. Jogava bem, mas eu conseguia, de onde estava, ver-lhe a mão, pelo que ganhámos uma série de partidas. Quase que lhe demos duas chitadas…

- El bem jgá ma nos e como um tem um oi plotch, un tava ta oiá sê jogo.

Ele, no entanto, ficava cada vez mais bem disposto e quando peguei na minha carteira, disposta a ir à procura de um sítio onde comer, ele saiu também e sugeriu o Experience. Fomos lá ter, cada um no seu carro.

Mas a cozinha tinha sido fechada nesse momento e ele convidou-me para outro sítio, um buraco perdido algures nas fraldas. Depois de muitas voltas no carro dele, lá encontrámos um sítio aberto, onde comemos uma cachupa. Convidei-o a aparecer dois dias depois lá em casa, onde lhe serviria um milho em grão em que sou especialista.
“Veio uma meia hora adiantando, saía eu do banho.

"Es cris panhám sem xixi, el somá mais cedo.

Tive que embrulhar-me numa toalha para lhe abrir a porta. Começou por me dar um abraço, o que achei ainda dentro de alguma naturalidade. Mas depois desse abraço, ficou completamente louco, beijando-me, agarrando-me, com uma vontade e uma insistência que eu nunca tinha visto… bom, ainda andámos um bocado nessa de gato e rato dentro da casa toda, até que lhe dei um corte final. Não me interessava envolver-me com ele.

“Descobri então que era religioso, mas com umas ideologias muito próprias. Disse-me que deus estaria contemplando-me do céu, zangado, com as mãos atrás das costas, furioso por que lhe ter estragado a obra. Que aquela atracão entre os dois só poderia ser coisa de deus.

Mas eu nunca fui religiosa e passo bem sem as coisas de deus. Metemo-nos por uma discussão filosófica, mas ainda assim, não me largava. Quase não o consegui pôr na rua. E ficou-me com um ódio de morte!

3 comentários:

Anónimo disse...

Sim claro... Ela não tinha nenhuma intenção de envolver-se com o tal flón... Só queria ver se ele a ensinava uns tantos truques de batota. Foi a única coisa que chamou a atenção dela e que inclusive a fez convidá-lo para um almoço e que também a fez ir recebe-lo, de toalha.
E eu sou sou filha o meu neto.

Nadia disse...

Ta engracod! Escreve mais. Um ta gosta de bos traducao na criol!!

Eileen Almeida Barbosa disse...

És filha do neu neto? Isso é incesto ou milagre? hihihi

Obrigada, Nadia, traduzi pa criol ê meio difícil mas sabim.