(...)
À mistura com frustrações, já se vê… (dor na o...) para além disso insistiu em provar o milho em grão mas eu lhe disse que mais depressa o atiraria pela sanita ou em cima dele… eu estava fora de mim.”
Era uma história pequenina, de certo modo, uma coisinha reles… se bem que, olhando para a matrona, não conseguisse imaginar um homem como esse tal Nino, agarrado a ela… por outro lado, imaginei que se tal homem existisse, de facto não quereria largar o osso – ou a carne – com facilidade.
Era um bonê meio canhambra, grandes coisas, um hom trás de um amjer. Embora ess li era daquês amjer que ta incthi um cama de um banda pa quel ot...
Não era meu hábito, mas pus-me a imaginar como seria essa senhora na intimidade. Mas não me deu muito tempo. Ao dar-se conta de que tinha, se calhar, contado mais pormenores do que queria, fez-se totalmente vermelha. Hesitou ainda um bocado. Eu, para quebrar o gelo que se estabelecera, convidei-a para irmos ao café:
– Sabe que a esta hora bebo sempre uma frize limão? Talvez me queira acompanhar. –
- Dess hora li, un ta costumá bá temperá um café c'um groguinha, pam guentá esh cliente de meu. Bocê bai ma mim. Se bocê ca ta bibê grogue, bocê ta bibê um poncthe, dá quase na mesma.
Levantou-se logo, já com um sorrisinho no canto da boca.
El pô log impê, estouvada!
Ao longo da nossa conversa no café, reparei que fazia muito esse sorriso. Não soube precisar por que motivo seria. Fazia uma tarde quente, abafada e ela suava sobre o lábio e nas mãos.
Tava que um tempo bafód, daquês que gent ca ta crê trabaiá nem dód pancada. Para mais, un tava que camisa tud suód e tud gent sabê manera que grog ta aquecê gent. Por isso que gent ta tmál pa frio, pa calor, pa cansera, pa espantá sono e pa fazê sono. Bcis dám mais um, que ess senhora ta valê pa dôs hom!
Olhar para as mãos papudas e húmidas dela meteu-me um misto de desagrado e atracção. Eram bonitas ainda assim. Contava-me agora sobre a forma como se iniciara nos negócios:
- … Nunca fui do género mulher de armas, está-me a entender… era mais uma moça sonhadora, sempre apaixonada por um actor de cinema, por um cantor… até do Bana gostei, imagine você… a mulher de armas era a minha irmã, e vivia com ela e pouco a pouco, ela foi-me encarregando de falar com este ou com aquele, descobrimos que eu tinha jeito para vender, muita paciência para falar com as pessoas… nessa altura, recebíamos bidões de roupa da América, muita até era de homem e iam muitos homens lá a casa ver a mercadoria… muitas vezes, deixavam lá quase o salário todo…
Afinal, ess tia, que tud sê style, tava vivê de rabidância... gent ta oiá cosa na mundo!
- Ah sim? Pois eu não conhecia essa faceta do homem cabo-verdiano…
- Ah, mas eu sabia despertar a vaidade neles… boinas, calças de fazenda com risco… camisas de bom tecido como havia nessa época… depois a minha irmã foi minguando, minguando, e eu tive que assumir até os outros negócios… ela ficava na cadeira a fazer contas, a maldizer a vida… felizmente morreu… desculpe, não me leve a mal por falar assim….
Nuca de vida se un tava ta bá crê pal morrê e un fcal que sê negoce...
- Não tem problema, imagine, sei o trabalho que dá ter um inválido em casa… Sei que não o disse por maldade…
- Pois não. Não disse. – Continuámos nessa conversa morna, agradável, sem mais falarmos no tal assunto que a trouxera até o meu gabinete. E nunca mais falaríamos disso. Falou muito da história dela.
Era de São Nicolau e chamou-me a atenção para a quantidade de gente importante e conhecida que era dessa ilha. Consultou-me sobre a potencial lucratividade de investimentos imobiliários na ilha. Mas sobre esse aspecto, estava mais bem informada do que eu. Ao sairmos do café, olhámos para os lados do Monte Verde. Não se via.
Ela sugeriu, para minha surpresa, que fossemos dar uma volta até lá e ver se estava lá mesmo. O jeep dela cheirava deliciosamente e no leitor de CD’s, um disco de Barry White.
De repente, já não sei como, estávamos na Casa Azul, tomando chá, pegando na chave de um quarto com vista para a cidade. O sorriso no canto da boca desapareceu, assim como o seu ar de matrona. Apenas se intensificara o fragor da respiração, o arfar das pesadas mamas. Estendeu para mim as mãos fofas, quentes, encostou-me ao amplo peito e senti o aroma de canela vindo de trás das suas orelhas. Era inebriante.
(...)
À mistura com frustrações, já se vê… (dor na o...) para além disso insistiu em provar o milho em grão mas eu lhe disse que mais depressa o atiraria pela sanita ou em cima dele… eu estava fora de mim.”
Era uma história pequenina, de certo modo, uma coisinha reles… se bem que, olhando para a matrona, não conseguisse imaginar um homem como esse tal Nino, agarrado a ela… por outro lado, imaginei que se tal homem existisse, de facto não quereria largar o osso – ou a carne – com facilidade.
Era um bonê meio canhambra, grandes coisas, um hom trás de um amjer. Embora ess li era daquês amjer que ta incthi um cama de um banda pa quel ot...
Não era meu hábito, mas pus-me a imaginar como seria essa senhora na intimidade. Mas não me deu muito tempo. Ao dar-se conta de que tinha, se calhar, contado mais pormenores do que queria, fez-se totalmente vermelha. Hesitou ainda um bocado. Eu, para quebrar o gelo que se estabelecera, convidei-a para irmos ao café:
– Sabe que a esta hora bebo sempre uma frize limão? Talvez me queira acompanhar. –
- Dess hora li, un ta costumá bá temperá um café c'um groguinha, pam guentá esh cliente de meu. Bocê bai ma mim. Se bocê ca ta bibê grogue, bocê ta bibê um poncthe, dá quase na mesma.
Levantou-se logo, já com um sorrisinho no canto da boca.
El pô log impê, estouvada!
Ao longo da nossa conversa no café, reparei que fazia muito esse sorriso. Não soube precisar por que motivo seria. Fazia uma tarde quente, abafada e ela suava sobre o lábio e nas mãos.
Tava que um tempo bafód, daquês que gent ca ta crê trabaiá nem dód pancada. Para mais, un tava que camisa tud suód e tud gent sabê manera que grog ta aquecê gent. Por isso que gent ta tmál pa frio, pa calor, pa cansera, pa espantá sono e pa fazê sono. Bcis dám mais um, que ess senhora ta valê pa dôs hom!
Olhar para as mãos papudas e húmidas dela meteu-me um misto de desagrado e atracção. Eram bonitas ainda assim. Contava-me agora sobre a forma como se iniciara nos negócios:
- … Nunca fui do género mulher de armas, está-me a entender… era mais uma moça sonhadora, sempre apaixonada por um actor de cinema, por um cantor… até do Bana gostei, imagine você… a mulher de armas era a minha irmã, e vivia com ela e pouco a pouco, ela foi-me encarregando de falar com este ou com aquele, descobrimos que eu tinha jeito para vender, muita paciência para falar com as pessoas… nessa altura, recebíamos bidões de roupa da América, muita até era de homem e iam muitos homens lá a casa ver a mercadoria… muitas vezes, deixavam lá quase o salário todo…
Afinal, ess tia, que tud sê style, tava vivê de rabidância... gent ta oiá cosa na mundo!
- Ah sim? Pois eu não conhecia essa faceta do homem cabo-verdiano…
- Ah, mas eu sabia despertar a vaidade neles… boinas, calças de fazenda com risco… camisas de bom tecido como havia nessa época… depois a minha irmã foi minguando, minguando, e eu tive que assumir até os outros negócios… ela ficava na cadeira a fazer contas, a maldizer a vida… felizmente morreu… desculpe, não me leve a mal por falar assim….
Nuca de vida se un tava ta bá crê pal morrê e un fcal que sê negoce...
- Não tem problema, imagine, sei o trabalho que dá ter um inválido em casa… Sei que não o disse por maldade…
- Pois não. Não disse. – Continuámos nessa conversa morna, agradável, sem mais falarmos no tal assunto que a trouxera até o meu gabinete. E nunca mais falaríamos disso. Falou muito da história dela.
Era de São Nicolau e chamou-me a atenção para a quantidade de gente importante e conhecida que era dessa ilha. Consultou-me sobre a potencial lucratividade de investimentos imobiliários na ilha. Mas sobre esse aspecto, estava mais bem informada do que eu. Ao sairmos do café, olhámos para os lados do Monte Verde. Não se via.
Ela sugeriu, para minha surpresa, que fossemos dar uma volta até lá e ver se estava lá mesmo. O jeep dela cheirava deliciosamente e no leitor de CD’s, um disco de Barry White.
De repente, já não sei como, estávamos na Casa Azul, tomando chá, pegando na chave de um quarto com vista para a cidade. O sorriso no canto da boca desapareceu, assim como o seu ar de matrona. Apenas se intensificara o fragor da respiração, o arfar das pesadas mamas. Estendeu para mim as mãos fofas, quentes, encostou-me ao amplo peito e senti o aroma de canela vindo de trás das suas orelhas. Era inebriante.
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