Dei uma volta e fiz 34 anos. A década de 30 interpela-nos porque há um conjunto de vitórias, aquisições e posicionamentos que a sociedade nos diz que devemos ter alcançado por esta altura e se falharmos, sentir-nos-emos muito mal e quem sabe, até comecemos a fumar, percamos peso ou pior, muito pior que isso tudo, engordemos.
Eu simpatizo mais com idades e números ímpares em geral. Assim, do alto da cabeça, posso lembrar-me que nada se igualou ao verão de 1997, que quando fiz 23 anos, pensei que não precisava fazer mais e os meus 33 me encheram de orgulho.
Nessa senda, estes 34 seriam só marcação de tempo para os 35. Mas os 35 parecem ter um peso e consistência toda ela diferente, e ainda bem que temos um ano inteiro para nos prepararmos para o tranco que depois, aparentemente, só voltamos a sentir aos 40.
Levo a minha dose de cabelos brancos na cabeça, vejo a minha pele a mudar; tenho rugas! A celulite não conta que essa surgiu eu tinha onze anos, então, junto com as estrias, pode-se dizer que "são da casa". É como a barriga! Eu sempre, sempre tive barriga. Magrinha, menina, caneluda... com barriga. É uma joia de família, entendem?
Mas depois há isto: quando era criança, não era corajosa como a minha mana. A Nádia subia às árvores, aos contentores, andava nos muros. Eu ficava a olhar, a fazer contas de cabeça, se caísse, como é que seria? Então subia com prudência, não me arriscava por aí além. Dei as minhas quedas de bicicleta, caí de muros altos, de muros baixos, fui levar pontos em ambos os casos; dei as minhas quedas de patins - e estas são feias! Mas nunca foram verdadeiras consequências de traquinices, porque não fui traquinas.
Apanhei pancada da Nádia e da Sandra, a nossa vizinha. Ainda bem que era a mais alta da minha turma ou teria também apanhado pancada na escola. Era fraca nos jogos de ringue.
No liceu, faltava sempre que possível às aulas de educação física. Tinha medo que a bola de andebol batesse em mim, que as miúdas do andebol me atropelassem no seu afã de meter um golo. Tinha medo de me enroscar nos meus próprios pés e estatelar-me no cimento.
Esta lenga-lenga toda devia terminar comigo a dizer que agora sou campeã de luta livre e que corro durante 55 minutos todos os dias. Mas não.
O que os anos me trouxeram foi um bocadinho mais de confiança física.
As feridas saram, as cicatrizes nunca são assim tão feias - provam que vivemos - e o que conta são as experiências.
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