Vai parecer anedota mas quando me ligaram a dizer que o meu poema
"A minha gente" tinha sido escolhido para um livro que se chamaria
"Os 100 melhores poemas de Cabo Verde", o que eu pensei foi:
Mas esse sequer é o melhor poema de Eileen Barbosa...
Mas quem escolhe assume todas as responsabilidades e na
apresentação deste livro, que entretanto mudou de nome, quando este poema
foi lido e depois comentado, percebei porque é que tinha sido esse e não outro.
É algo relacionado com o ser-se cabo-verdiano. Costumava crer que nunca refleti
muito sobre o ser-se cabo-verdiano na minha escrita porque estava tão
intrínseco em mim e porque sou geralmente escritora de ficção. Mas não é bem
isso: penso agora que nos primeiros anos de escrita, a maior parte dos escribas
escreve muito por influência de quem leu. E eu li muito mais escritores
"ocidentais" que nacionais.
Acredito firmemente que à medida que os anos passarem, me tornarei
uma escritora muito mais terra a terra. Crioula. Como a minha gente.
A minha
gente
A minha gente
Parece
ter brotado
Desta
terra seca
Brotada
dos vulcões
Nascida
de uma concha
Que
o mar depositou na areia.
A minha gente
Tem
rugas de olhar o longe
Rugas
de rir
De
sofrer
E
de morrer
As
de morrer são mais bonitas
Provam
o renascer
A
cada dia.
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