Soncent

Soncent

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A minha gente


Vai parecer anedota mas quando me ligaram a dizer que o meu poema "A minha gente" tinha sido escolhido para um livro que se chamaria "Os 100 melhores poemas de Cabo Verde", o que eu pensei foi:
Mas esse sequer é o melhor poema de Eileen Barbosa...

Mas quem escolhe assume todas as responsabilidades e na apresentação deste livro, que entretanto mudou de nome,  quando este poema foi lido e depois comentado, percebei porque é que tinha sido esse e não outro. É algo relacionado com o ser-se cabo-verdiano. Costumava crer que nunca refleti muito sobre o ser-se cabo-verdiano na minha escrita porque estava tão intrínseco em mim e porque sou geralmente escritora de ficção. Mas não é bem isso: penso agora que nos primeiros anos de escrita, a maior parte dos escribas escreve muito por influência de quem leu. E eu li muito mais escritores "ocidentais" que nacionais. 


Acredito firmemente que à medida que os anos passarem, me tornarei uma escritora muito mais terra a terra. Crioula. Como a minha gente.

A minha gente



A minha gente
Parece ter brotado
Desta terra seca

Brotada dos vulcões
Nascida de uma concha
Que o mar depositou na areia.

A minha gente
Tem rugas de olhar o longe
Rugas de rir
De sofrer
E de morrer
As de morrer são mais bonitas
Provam o renascer

A cada dia.

Sem comentários: