Soncent

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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Memórias dos trovões

Era a noite de 24 de dezembro de 1996. Como muitas vezes acontece, estava a chover, ainda que não copiosamente. Eu e a mamã passeávamos no seu Ford Escort vermelho, a ver o movimento das ruas.
Só valeria ir à ceia muito mais tarde, quando a minha avó, que tinha uma loja da Pracinha da Igreja, se despachasse das vendas tardias.
 
A calçada brilhante refletia as luzes das lojas em que as pessoas se atarefavam, embora já passasse das dez. Por muitas portas saíam as músicas do Jorge Cornetim, marcas obrigatórias da época natalícia. Estava longe de estar frio mas ambas trazíamos casacos.
 
Começaram os relâmpagos, seguidos de trovões. Um, dois, três. A mamã confessou-se com medo. Eu sorri. Ela conduziu mais um bocadinho. Os trovões não paravam. Ficou com mais medo ainda. Eu gargalhava. O que é que poderia acontecer?  Nada, claro.
 
Mas sabem o que fez?
 
Foi a correr para a loja da mãe, que na altura tinha os seus respeitáveis 79 anos. Não procurar agasalho, claro. Conforto, talvez.

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