Soncent

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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Paleio a meio da manhã.

Às pessoas que torcem o nariz quando lhes digo que o meu segundo e terceiro livros serão de contos, digo-lhes que estes são tão literários como os romances. Enfim, defendo o conto como uma contista. Enfim, não confesso que não tenho fôlego para um romance. 

Mas já tive um romance quase que escrito. Alinhavado. A quatro mãos. 

Tudo aconteceu quando estava em Faro, a licenciar-me e correspondia-me com um mestrando ou doutorando - já nem sei - que se encontrava em Lisboa. Não nos escrevíamos todos os dias, havia alguma espera, mas escrevíamos sobre tudo - amores e desamores, a escola, a vida, a filosofia, a política, a poesia. Ele era a voz do mais velho, que me aconselhava, que me ouvia, mas era também aquele que vivia através das minhas palavras: deleitava-se com a minha vida, com as descrições que eu fazia do ambiente de estudantes, de uma cidade diferente, dos meus casos. Beijava com a minha boca, via com os meus olhos, tinha a experiência de uma estudante universitária em Portugal que ele nunca poderia ter tido. 

De maneira que quando peguei em quatro anos de e-mails trocados, pensei em fazer mais um livro de Cartas-trocadas-entre-fulano-e-sicrana, mas... os conteúdos eram tão reveladores, tão íntimos e pessoais e sinceros que eu lhe daria cabo pelo menos do casamento, se não fosse da sua reputação e sei lá do quê mais. 

Este paleio todo porque de um certo ponto de vista enviesado, só não sou romancista para proteger terceiros, o que é sempre uma forma muito honrada de não se ser autor. 

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