Soncent

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quarta-feira, 17 de junho de 2015

E por falar em costas largas

E por falar em costas largas: estava uma vez de férias em Soncent. Ia muito à discoteca Syrius. Por lá andava também o X. (nome fictício, disfarçado, aqui sob pseudónimo e num programa de proteção de testemunhas) que era enorme.

ENORME.

O X. era bastante alto e fazia culturismo, o que eu não apreciava na altura, achava feio homens fortes demais. O que aconteceu foi de eu começar a pensar se, dançando com ele, as minhas mãos conseguiriam tocar-se atrás das suas costas. Será que eu abarcava toda a sua circunferência? Queria saber.

Mas ele nunca me convidava para dançar.

As noites passavam, o X. lá na discoteca, eu lá  na discoteca, fazendo-me encontrada com ele e nada.

Comecei a fantasiar com o X. Já não queria apenas dançar com ele. Agora queria, sei lá, falar com ele. Definitivamente, abraçá-lo!

De maneira que depois de uns dias, ele estava sentado no balcão da discoteca e fui sentar-me à sua frente, sem mais, e meti conversa. Perguntei-lhe se ele competia. Ele disse que não, que só treinava porque gostava mesmo, não gostava de chamar as atenções, ser avaliado.

Ah.

Perguntei-lhe o que fazia na vida. Ele já estava a responder quando reparei que ele tinha as unhas das mãos pintadas. Enfim, de verniz transparente, mas era verniz. Ele viu que eu estava a olhar e disse-me uma frase que nunca mais me esqueço:

- Sim, pinto as unhas mas não sou gay.

Naquela hora, naquele momentinho, imaginei o portento do homem, de quase dois metros, de pernas cruzadas, mão esquerda esticada, mão direita a pintar uma unha, a língua de fora num gesto de concentração.

Todas os dias de fantasias com o X. se esfumaram frente aos meus olhos, vi-as cair mesmo, género desenhos animados. Disse-lhe qualquer palavra de despedida enquanto me ia embora e não olhei para trás.

Atire a primeira pedra quem nunca.

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