Mentalidades

Apesar de ter passado a  minha adolescência a polir calçada porque o meu único trabalho era estudar, hoje valorizo muito mais os que estudam e trabalham. Tenho encontrado várias moças a estudar o liceu ou a universidade, e que pagam as suas despesas trabalhando como mulher a dias.

Eu própria cheguei a contratar uma jovem que estava no segundo ano de Relações Internacionais e dava conta de duas casas. Não durou, porque não dava grande conta dos horários e do arroz, mas isso não vem à questão: temos que deixar de ter vergonha de trabalhar e ter sim, orgulho em ganhar uns valentes trocos com o nosso tempo.  Porque é disso que se trata: eu não quero gastar o meu tempo a limpar a casa, então pago a alguém que quer ou pode, fazer exactamente isso. Porque eu também ia limpar a vossa casa, pelo preço certo.

Mas dá-me a impressão de que temos uma mentalidade toda ao contrário: países ricos como os EUA incentivam os seus jovens a trabalharem desde muito novos, seja a lavar carros, a cortar relva, a distribuir jornais, etc. Por cá, a classe média impede os seus filhos de trabalhar por vergonha, e os que querem e conseguem furar a resistência dos pais não encontram muitas opções partime.

O que constatei enquanto estava a cursar foi que os meus colegas que trabalhavam eram mais produtivos que nós os outros, que por termos todo o tempo disponível, o desperdiçávamos com tarefas de pouca pertinência, como ficarmos sentados à janela com saudades de Cabo Verde. Se só tivermos duas horas para estudarmos porque depois vamos trabalhar para uma cadeia de fast food, estudamos mais do que se tivermos toda a tarde.

E constatei ainda que os meus colegas que já tinham trabalhado eram mais maduros, mais respeitados pelos professores, e sabiam o que queriam. Eu não sabia.