Soncent

Soncent

quinta-feira, 3 de maio de 2018

O poema

Que o poema surgisse nu e coberto de tinta, parido num instante de pura rotina, carregado do velho que era mais um dia, desvirtuado por olhares cansados de sempre, enlameado de tristezas quotidianas, que o poema surgisse no meio à imundice da mesmice do pó que paira sobre o sol que se põe além, sem ninguém notar ou apreciar. 

Que o poema viesse pronto e nem rimasse, que fosse tonto e nem esboçasse rires e choros de nula espécie. Que viesse o poema como se chega a dor, que se desse o poema como se dá o amor, que ele chovesse como cai a névoa, que nos cobrisse como nos mancha a fé, que nos fodesse como nos suga o IVA, que nos quisesse como se pede a deus, que nos amolgasse como nos odeia a besta. 

Sem comentários: