Passámos na Zara e investimos cada um num par de jeans, eu comprei uns iguaizinhos aos que trazia e fui mudar-me na casa de banho. As jeans antigas, atirámo-las para dois caixotes de lixo, um em Monte Negro, outro ao pé da estação de comboios. Depois fomos a um restaurante desses que ficam abertos toda a noite e revimos tudo, o modo como agiríamos, o que fizéramos durante a tarde, tentámos criar uma história o mais simples possível.
Era pouco provável que alguém acertasse connosco, mas tínhamos um nervoso, um medo! E as dúvidas! Quando é que descobririam o corpo? Eu nem me queria ir deitar. Antes de adormecer, já tinha medo dos pesadelos que teria. E passei a noite imaginando que ela afinal nem estava morta, e que tinha ido à polícia denunciar-nos.
E de facto, eu já não encontrava desculpa pelo que tínhamos feito. E se o Victor não aguentasse e contasse tudo? Que vergonha, eu ir presa por assassínio! Que diriam os meus pais? Quantos anos de prisão daria? E já imaginava o julgamento, os meus amigos a testemunharem que eu fui sempre boa pessoa, um psiquiatra qualquer a vir com uma tese de uma loucura momentânea, se calhar até se arranjasse uma droga qualquer que nós os dois tivéssemos consumido.
Aliás, agora tenho a impressão de que de facto estávamos sob o efeito de algum produto, juro que se fosse agora, eu nunca sequer me aproximaria da João, ela que fosse contar o que quisesse, que isso até não me afectava assim tanto!... Foram precisos dois dias para que se ouvisse a notícia de que tinham encontrado o seu corpo, dado à costa algures na ria.
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