À tardinha é quando sente saudades do marido. Não o diz, mas já a conheço.
Trouxe-lhe um cãozinho há dois dias. Chamou-o Fidel. Não me consegui zangar com ela e o cãozinho tornou-se na nossa alegria. Já dorme connosco. Continuamos a dormir na mesma cama, embora já ambos saibamos que estou de perfeita saúde. Pelo menos a saúde que se tem na minha idade. Simplesmente nenhum de nós diz nada. Sinto que no momento em que este assunto vier à baila, a vergonha já não nos permitirá seguir com esta vida de casados felizes. Ela é amorosa.
Fez ontem dois meses que moro com a Anita. Daqui a dois dias faz um mês que dormimos juntos e, daqui a uma semana, fará uma semana de nos termos beijado. Um beijo a sério, não um beijo de velhos. À noite, no escuro, ela disse-me que não esperara que um beijo na nossa idade fosse assim. Eu não esperava era vir a sentir-me feliz, mesmo vivendo tão perto de Havana, onde o meu irmão não consegue manter um pulso firme. Onde fracassa dia a dia e é uma questão de tempo para o deporem. Não o deixarão no poder, com todas as atrocidades de que se vale. Por cá, nos jardins, dizem-me que Fidel era melhor. Paz à sua alma. Eu fico vermelho, mas parece que ninguém nota.
Aliás, ninguém repara neste velho pacato em que me tornei. Fico a pensar se não seria a farda que me fazia tão importante. Quem me vê agora, não deslumbra nos meus traços nenhuma das honras que me foram concedidas. Sou apenas o marido da Anita, alto, magro e sempre tossindo, espirrando e arrotando.
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