Não estava à espera de alguém tão novo e não pôde deixar de se impressionar ligeiramente. Ele fitou-a longamente, numa atitude que não escondia algum desafio, que não era das melhores quando se está ligado a correntes eléctricas. Ignorando-o, leu a primeira página do dossier, e sentou-se à sua frente. Inspirando longamente, começou a sua tarefa.
--Dr. Agostin?—Ele olhou para ela. Primeiro para os óculos, depois o nariz e a boca, e detendo-se no peito. Disse com voz grossa e com leve sotaque francês:
- Ora essa! Agora as mulheres é que fazem o trabalho sujo? — Íris sorriu, e quebrando a regra de não responder a provocações, retrucou:
--Não sabe?! As mulheres têm um estranho poder sádico. Adoram fazer sofrer e adoram segredos! Vamos a ver... Você tema cara de quem esconde muitas coisas! Vamos lá a cantar!...— ele riu-se. Ouviu-o dizer baixinho qualquer coisa sobre sentido de humor. Mas ela não ligou. Tinha várias horas à frente.
Foi um longo interrogatório. Agostin contava a história a conta-gotas, era preciso expremê-lo todo e embora dissesse coisas que faziam sentido, a Íris soavam a falso. Mas levariam algum tempo a verificá-las. Se insistia na violência, ele calava-se, e ela só o via a controlar a respiração. Gritava alto, o que era bom, porque doía menos. Mas Íris viu que conseguiria mais seguindo o ritmo dele, devagarinho, dando muitas voltas e metendo muitos comentários pelo meio.
Quando terminou naquele dia, estava convencida de dois factos somente: que ele estava a tentar ganhar tempo e que gostaria de o ter conhecido noutras circunstâncias.
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