Soncent

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quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O Romance - Capítulo VIII

Fazia muito calor, as ruas quase vazias deitavam o fedor do costume, reparou em vários prédios novos que haviam construído. Indecisa entre ir a casa da amiga Rita ou rumar directamente para o Plateau, parou numa cabine telefónica e tentou contactar o ex-colega. Esse tinha saído para almoçar. Mirou a Praça, decepcionada. Mais valia então ir à Prainha, onde a amiga a recebeu com um bom peixe assado, o que a aliviou de parte dos seus males. Roger, o colega da Judiciária telefonou-lhe quando ainda não eram três horas e ela foi ter com ele no carro da amiga.
- Como é que estás, rapaz? Esta barriga?
- Pois é, pá, tenho que começar a correr! O que é que contas? Conseguiste alguma coisa do teu pássaro? - Bem mais alto que Íris, e bem mais gordo, Roger tinha um rosto de criança, a pele muito lisa e quase sem barba.
- Nem me lembres! Imagina que eu a chegar, ele levantava voo? Ah, se tenho vindo mais cedo! Enfim!
- Paciência, rapariga! Anda, tenho uma pequena lista de lugares onde ele foi visto e de pessoas com quem falou. Mas digo-te logo, ele não se encontrou com ninguém suspeito, pelo menos que eu saiba. Diz-me uma coisa, Íris, já vi que não estás de serviço, mas...
- O quê?
- O teu interesse nesse homem? Tens provas concretas de alguma coisa? Sei que ele foi solto...
- Pois foi. Mas tinha uma história tão bem contada como falsa, disse que era escritor e por isso viajava muito, que daquela vez que o pegaram com um carregamento tinha sido uma encomenda que lhe tinham pedido que levasse, e de facto ele escapou-se dessa. Mas continuo a pensar que ele não está inocente.
- És um bocado teimosa, não és? Bom, em que te puder ajudar... – A Roger, o tal do Agostin não parecia nada suspeito. Primeiro porque de facto acontecia muito transportarem-se encomendas de pessoas a quem não se consegue dizer que não, e uma pessoa não sabe o que é que lá vai. Depois porque ele andara atrás dele um bocado e ele só tinha ido aos lugares mais usuais, a bons bares, vira-o cumprimentando alguma gente eminente e brincar com uns miúdos que nem sequer parecia conhecer. Mas Íris era inteligente e tinha experiência, de maneira que deveria haver qualquer coisa que de facto não batia certo com o cidadão francês.
Íris bem pôde verificar que Agostin só andara pelo circuito natural de quem está só de passagem pela ilha. Também não viu nada de especial na lista de nomes, mas surpreendeu-se querendo saber quem eram os nomes femininos. Depois de conversar um bocado sobre as suas possibilidades e conhecimentos no Senegal, partindo do principio de que Agostin ficaria no Senegal, Íris convenceu-se de que nada mais tinha a fazer na Praia. Foi-se despedir da amiga, apanhou as malas e o mesmo taxista que a tinha trazido levou-a ao aeroporto. Ela tinha ainda uns mails e uns faxes a mandar para Dakar.

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