Soncent

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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A lenda de Adélia e Elísio - Extracto de um conto de Eileenístico

(...)
“Conta-se que Adélia amava perdidamente Elísio, rapaz do Monte Verde, com quem crescera. Elísio sentia por ela apenas carinho e embarcou num navio para longe sem esperança de voltar.
Adélia sofreu tanto e amou tanto que de um pedaço de basalto enorme, esculpiu o corpo de Elísio. Ao que parece, reproduziu cada traço na perfeição, cada pequena ruga à volta dos olhos, cada pêlo no peito, cada músculo na perna. Depois de terminar a obra, ela abraçava-se a ela, pois tinha o tamanho natural, e falava com ela como se do próprio Elísio se tratasse.
Parece que era tão forte esse amor que tempos depois do início dessa veneração, os olhos da estátua começaram a mexer-se. Seguiam-na por onde quer que fosse, dentro do vasto pátio em cujo centro se encontrava. [Vê lá tu, o vendedor disse que ela tinha um terreno no Lameirão e é bem capaz…] Depois, começou a sorrir assim que ela aparecia de manhã.
Meses depois, a estátua inclinava a cabeça sempre que Adélia lhe beijava o pescoço, como se se tivesse arrepiado.

Reza a história que anos depois de afeições e venerações, a estátua circulava pelo quintal, punha-se debaixo da árvore quando fazia muito sol e dormia abraçado a Adélia à noite.
Houve um dia uma tempestade muito forte, com trovoadas e raios e trovões e um raio atingiu a estátua, partindo-a um mil e um pedaços. Adélia ficou desolada, chorou imenso, caiu doente na cama, querendo morrer.
A história desse milagre, entretanto, cruzara os mares e fora ter aos ouvidos de Elísio. Quando se inteirou do acidente com a sua estátua, arrumou os seus pertences e correu para os braços da mulher que tanto o amava.
Encontrara fortuna no estrangeiro mas nunca o amor. E se o amor de Adélia tinha o poder de fazer mover uma estátua, teria certamente o de o conquistar. E viveram felizes para sempre. Este que aqui vê é um dos pedaços da estátua, consegue ver, é a Mão esquerda de Elísio, mão que acariciou Adélia com tanto amor.
(...)
Maio de 2005

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