Soncent

Soncent

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Mentes parecidas

 
O título deste post pode-vos parecer uma tradução literal do Inglês, isso porque eu também me tornei numa dessas pessoas enfadonhas, medonhas e arrogantes e pobres de espírito que ficam a introduzir palavras de outras línguas quando falam a Língua Cabo-verdiana ou o Português, como se estas não tivessem vocábulos suficientes para nos expressarmos apenas com elas. Até o João Ubaldo Ribeiro, em Os Budas Ditosos, meteu falas em Inglês na narradora. Se não fosse por ele já não estar entre nós, eu iria falar muito mal dele! 

Devo dizer em nossa defesa, minha e do João Ubaldo, (a quem, por decisão régia da Rainha do Reino Reinante de Palmarejus Baixus e Arredoris Oceânus Atlanticus,   de agora em diante  posso tratar por Tu, tradução literal de You), que, às vezes, somente às vezes, há coisas que são expressas de uma forma um tantinho melhor numa outra língua. Discussão para uma outra hora, de qualquer forma. 


Vinha contar-vos do meu feriado, que tinha toda a cara de vir a ser uma desgraça mas que por uma inspiração vinda de vários dias a chocar uma tristeza com poucos paralelos, acabou por ser uma maravilha de dia, praticamente pela simples razão de ter encontrado alguém com uma mente tão parecida com a minha que alinhou em tudo o que lhe propus: ir nadar a São Francisco quando nenhum de nós dormira grande coisa na noite anterior. Estar em São Francisco, sentir fome, e pensar que não era mal avisado ir comer uns pastéis de milho a São Domingos. 

Estando em São Domingos, olhar para o alto e decidir, às seis da tarde, que o melhor mesmo era ir fazer uma caminhada até o Monte Tchota. E assim, às seis e tal, deixávamos o meu portentoso carro na Quinta da Montanha e rumávamos, de chinelos e sal na pele, montanha acima, a pé. Mas o melhor nem foi isso. O melhor foi termos ambos cantado, com toda a força dos nossos pulmões, famosas óperas que devíamos estar a estragar de todas as formas mas o que é que tem, se sabe tão bem cantar? 

E depois descer no escuro, com o cheiro dos eucaliptos no nariz, cruzando-nos com um ou burro acompanhado do seu parasita.

Nota: Gostava de agradecer esta oportunidade para voltar a mencionar o meu portentoso carro. É que até hoje não está muito claro na minha cabeça como é que posso possuir uma montada tão esbelta e forte, tão cinzenta e grande. É daquelas coisas, uma pessoa nasce para ser ciclista e escritora e de repente vê-se, por força e arte das circunstâncias, a conduzir um 4x4. Sobe na cabeça de qualquer um! Ou pelo menos, sobe na cabeça da ciclista. Obrigada mais uma vez! 

Sem comentários: