Soncent

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quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Cabelos e... pêlos



Há alguma tese de licenciatura ou mestrado nas áreas de antropologia ou sociologia ou psicologia, que se debruce sobre a relação dos crioulos com o cabelo?

Haveria capítulos em que se falaria de fenómenos como mulheres ou homens de cabelos finos e lisos serem sempre bonitos; do cabelo ser das principais características usadas para descrever alguém; do facto de as pessoas poderem não ter dinheiro para comer, mas não ficam sem desfrizar a carapinha; dos barbeiros que fazem o mesmo cortes aos clientes desde que abriram a porta, há 26 anos; das moças que desfrizam o cabelo no dia de festa, e depois temos que aturar-lhes o cheiro de Wella quando estão suadas a dançar; da tradição de fazer penteados nas soleiras das portas; das mulheres que vão fazer as suas compras com rolos na cabeça; do quanto somos seduzidos por cabelos compridos; dos pais proibirem as filhas de cortar o cabelo, como se este a elas não pertencesse; dos rapazes que decidem fazer rasta e ouvem bocas de toda a gente; dos dias em que o cabelo está muito mau e só se salva quem mete um chapéu/lenço/boina, da moda do afro, em que cada vez mais gente assume os seus caracóis e volume.

Haveria ainda um capítulo-oferta, com uma abordagem leve aos pêlos: de como a maior parte das mulheres cabo-verdianas não depila as pernas ou os sovacos; dos homens que deixam os pêlos do sovaco crescerem tanto que formam dread locks feito estalactites brancas de stick; da nova moda dos rapazes e homens de se depilarem em toda a parte, braços e pernas inclusive; da frequência com que se encontram mulheres com barba e bigode, principalmente nalgumas ilhas.

De que foi que me esqueci?

6 comentários:

Hi! I'm Ruby disse...
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cristal disse...

Muito boa ideia... para estudo de psicologia social. Não esquecer de expressões como "estar pelos cabelos" e de referir o drama bíblico do Sansão e da pérfida Dalila que lhe cortou o... cabelo!

Anónimo disse...

essa história de cabelos e pêlos tem muito haver com a cultura e com as influências exercidas sobre essa mesma cultura (ou sobre os "donos, e em certa medida, fazedores" dessa cultura - homens e mulheres).
és uma menina linda que várias vezes confessou, aqui no soncent, adorar a moda, esse fenómeno que nos sacode a todos, querendo ou não.
o meu cabelo,. p.e., o estilo que uso num dado dia, é determinado por uma combinação do que está na moda e o meu estado de espírito, quanto a pêlos não os suporto em nenhuma parte do meu corpo, se pudesse dava um salto na "corporacion dermoestetica" e acabaria de vez com eles.
mas no fundo não captei a essência do teu texto hoje, habitualmente até me identifico muito com o que escreves, e bem escrito mas, hoje, não foi o dia. não posso ter a pretensão de ter sempre esse alcance, nem sempre chegamos lá...
bjs
PS: espero que não tenhas nada contra o anonimato desde que haja respeito.

Eileen Almeida Barbosa disse...

Cristal, essa expressão não se usa por aqui... o que se diz cá é "fiquei com os cabelos em pé", para dizer que se sentiu medo.

Anónimo, não havia nenhuma moral por trás do texto, são só curiosidades. Lembre-se que não temos pêlos por acaso, há uns mesmo indispensáveis, como o são as pestanas e os do nariz. Outros ainda muito úteis como as sombrancelhas. Os outros sofrem por razões culturais, ou não? Se vivesse em Santo Antão, por exemplo, onde se acha bem as mulhres serem peludas, continuava a adetestar os seus?

Anónimo disse...

ups!! é preciso delimitar o meu ódio pelos pêlos.
odeio todos os pêlos com excepção das sobrancelhas e pestanas (veio-me logo à cabeça a imagem daquele árbitro famoso que não tem nem cabelos nem pelos).
Somos todos frutos dos nossos meios, com particularidades, sem dúvida, ou então não seríamos indivíduos. Eu sou fruto do meu meio e sendo assim respondo que detesto os pêlos (devidamente explicado acima) daí que é provavel que gostasse dos meus pêlos se tivesse sido moldada numa sociedade onde o contrário fosse o normal/bonito ou seja lá o que for. (estou-me a imaginar cheia de pêlos nas pernas, debaixo dos braços...rsrsrs)

cristal disse...

Volto Eileen só para esclarecer que, mesmo por aqui a expressão "estar pelos cabelos" que significa ser contrariado até ao limite, vai caindo em desuso... Outros tempos, outras modas, que o idioma, tal como roupas e cabelos, também lhe obedece... Porque, felizmente, é vivo e, por isso mesmo, lá vai ficando diferente. A expressão "ficar com os cabelos em pé tem cá, o mesmo significado que aí.