O Romance - Cap. XV

Ainda pensou em ir ter com eles, mas o ar de pânico devia ainda estar à volta dela e ela preferiu continuar em direcção a Sal Rei. Ainda com o sangue numa corrida vertiginosa e com os olhos no saco de praia cor-de-rosa.

Tinha que se ir embora da Boa Vista o mais depressa possível. E tinha que levar o dinheiro com ela. Todo esse dinheiro. Mas como fazê-lo? Quem saberia do dinheiro? Quem quer que o fosse receber, claro. E quem mais? Será que alguém a vira? Se sim, a vida dela corria perigo. Mais uma razão para se ir embora!

Aproximou-se do cais e foi ajudada por um pescador a atracar. Tomou um táxi para casa e, ainda com o taxista à espera, arrumou as suas coisas e foi para o aeroporto. O voo para o Sal partira uma hora antes. Íris teve que regressar num outro táxi, maldizendo o mundo, a Boa Vista, a TACV, a ASA e os governantes do país. Decidida a arquitectar uma história consistente para se ver livre de qualquer suspeita e poder ficar com o dinheiro. A primeira coisa a fazer era esconder o dinheiro.

Pensou em todos os sítios óbvios, e depois começou a pensar em sítios onde ninguém mexeria. Decidiu-se, após muito pensar, em metê-lo no saco da roupa suja. Embrulhou-o numa toalha de bidé e meteu-o entre saias, calcinhas e sutiãs. Não ficou muito satisfeita mas nesse momento, nada melhor lhe ocorria. A seguir, decidiu que teria que ir à sede da polícia, dizer que não vira Maurício e que, já que nada descobrira na Boa Vista, mais valia ir-se embora.

Entrou com a testa suada e as mãos a tremerem. Viu os dois agentes que tinham ido à Praia de Chaves, sorriu-lhes e perguntou-lhes:
- Vocês conseguiram alguma coisa?

O mais alto dos dois fez que não com a cabeça e foi o mais baixo o atrevido que quase matou Íris:

- Vimo-la a si.