Soncent

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sábado, 18 de dezembro de 2010

Passeio devaneio - reloaded

Gosto da palavra reloaded. Obrigada por esta oportunidade de a usar.

Caminho pela rua e aproximo-me de uma senhora com uma cara conhecida. Reviro os meus ficheiros para a identificar. Não a encontro mas em contrapartida, encontro a Mónica Lewinsky. Cumprimento-a com um aceno de cabeça displicente mas ela pega-me o cotovelo. Que atrevimento, lançam-lhe os meus olhos dissidentes. Ela pergunta-me numa voz surpreendentemente doce:

- Vou ser lembrada o resto da vida por ter blowjobed o Clinton?

- Vais, que queres?

- Mas eu não fui a única.

- Mas foste quem se gabou de o fazer. Algum comentário?

- Sim. Acabou-se-me a fortuna mas ficou-me a fama.

- Menos mal. Da Paula Abdul já ninguém se lembra. – Sacudo e braço e sigo o meu caminho. Bocejo sem tapar a boca, porque daqui, ninguém me vê. Tenho que interromper o bocejo com urgência para fugir de um descapotável preto que quase me atropela. Oiço o chiar dos travões praticamente em cima de mim e quando a fumaça se esfuma, dou com o Bruce dentro do Mazda. Ele abre a porta do lado do passageiro e diz-me com má pronúncia:

- Jump in.

- Estou sem as minhas sapatilhas de basquete.

- Ok. Preferes ficar cá? – Hoje em dia hesito muito pouco. Sento-me no assento de pele e descubro que o Bruce gosta dos U2. O Bono diz qualquer coisa sobre a Lua enquanto o Bruce me olha dentro dos olhos e me diz:

- Tens qualquer coisa da Kim em ti.

- Menos mal. Se tivesse da Demi é que era uma chatice.

- Unh. – Não diz mais nada mas arranca e vai em direcção ao Plateau. Olho para o perfil dele e mais uma vez penso que parece uma pessoa qualquer. Peço-lhe para parar e desço do Mazda.

- Posso pedir-te uma coisa?

- Claro. – Ele tira uma caneta para me dar um autógrafo. Eu fujo com a mão e com a outra, pressiono o eject.

- Dá-me este CD. – Salto do Plateau a tempo de me agarrar à corda do helicóptero. Como nunca faço exercícios com os braços na vida real, não me aguento bem na corda e por pouco caía na mar da Gamboa, se uma mão enorme não me agarra pelos cotovelos e me puxa devagarinho para dentro da máquina.

Parece-se com o Lungreen mas é moreno. Sinto que vou ter uma dor na omoplata durante uns dias. Ele estende-me uma coca-cola. Digo-lhe: Não se deve beber bebidas gasosas quando se voa, mas aceito-a se houver um rum para lhe tirar o gás. Oiço uma gargalhada lá da frente. Os dois pilotos são tão parecidos que hesito entre identificar um como o Lula, outro como o Scapa. Sento-me imediatamente e aperto o cinto.

Tanto quanto sei, nenhum deles tem um brevet. Depois faço as contas: visto que tinha falado em crioulo, o que se rira tinha que ser o Scapa. Baseando-me na nossa amizade, pedi-lhe o seu colete salva-vidas. Ele estendeu-mo mas disse-me logo:

- Olha que se não o sabes usar, não te vale de nada! – Sentei-me outra vez. Não querendo fazer perguntas óbvias, ma sentido uma necessidade intestinal de ter respostas, perguntei já em português:

- Onde é que se almoça?
- No Mindelo.
- Autonomia de voo?
- 7 horas.
- Oh Lundgreen, aquele Cuba é duplo e aceito uns fidj de pastel.

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