Soncent

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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Imelda II

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Perseguindo-a nas horas vagas, vim a dar de caras com o companheiro dela, que era metade de mim de corpo, mas com uma cara assanhada de poucos amigos, que metia respeito. Aos outros, porque eu não aprendi a ter respeito por ninguém, consequência de ter sempre ocupado muito espaço no universo.

Esse tipo era bom numa coisa qualquer, não me lembro agora se seria canalização, carpintaria ou electricidade. Era chamado para casos difíceis, trabalhava pouco e recebia uma pequena fortuna. Ah, já sei: era mecânico da parte eléctrica de automóveis. Um convencido. Topei com ele um par de vezes, numa delas vi a Imelda em plena festa de São João, cheguei-me perto, quando já lhe ia exibir o meu sorriso e pegar-lhe na mão, apareceu o minorca a pôr-lhe logo uma mão na cintura, a marcar território. Palerma. Com mais gosto lhe conquistaria a mulher.

Numa outra vez, sentei-me ao lado dele no campo de futebol, sem me dar conta. O campo estava tão cheio que quando vi uma cadeira vaga, nem olhei para quem estava ao lado. E era ele, de boné e camisa da Ribeira Bote. Quando vi que o tipo era dessa equipa, fingi que toda a vida tinha sido Batuque e vi-o ficar verde de raiva à medida que Ribeira Bote se ajeitava com o 3-0.

Confesso que passados uns tempos, já não sabia o que é que viera primeiro: se me interessara pela Imelda e ganhara raiva ao marido dela, se ganhara raiva do marido e queria a Imelda a toda a força, só para lhe fazer mossa. Porque uma coisa era certa: ele gostava dela. Notava-se numa série de pequenas coisinhas, de atenções que ele lhe dedicava.

O tempo passava, os meus esquemas não davam em nada e apareceu a Josina, bonitinha e sempre alegre. Saímos juntos uns pares de vezes e gostava mesmo dela, até descobrir, neste mundo parvalhão, que ela era meia-irmã do minorca da Imelda.
 
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