Mas a Praça era o paraíso para crianças como nós, então íamos
ficando, íamos fugindo delas e os minutos escorriam até que elas, desesperadas
e chateadas, nos pegavam por um braço, pegavam nas bicicletas com a outra mão e
voavam calçada acima até o Alto de São Nicolau, onde, esbaforidas, suadas pelo
esforço, subiam mais umas escadas para as casas vizinhas onde trabalhavam. Atiravam
a bicicleta para alguma varanda e entravam na sala, onde a patroa já estava
sentada no sofá a ver a novela.
A Da Cruz, a nossa, sentava-se então na
alcatifa, pernas estendidas, e embarcava na trama. Todas nós na casa, e
praticamente toda a gente na zona, na ilha, no país, atentos ao ecrã durante
uma hora, sabendo os nomes de todos os personagens, amando uns e odiando outros, rindo-nos às claras e chorando às escondidas.
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