Soncent

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quarta-feira, 20 de abril de 2016

Cabo Verde em 2030




Por alturas da organização do II Fórum da Transformação (maio de 2014) pediram-me que escrevesse a minha visão do que será o país em 2030. E escrevi isto:




2030 é celebrado por todos em Cabo Verde, até nas ilhas onde não havia muita tradição de apitos e barulho à meia-noite. Pudera! O país vira tanto desenvolvimento nas últimas décadas que parecia maior, como se as suas ilhas tivessem crescido.


Mas em tamanho, estava tudo igual. Até havia menos cidades e municípios, à medida que o crescimento levara à fusão de algumas cidades e algumas câmaras tinham conseguido chegar a acordo a fundirem-se, ganhando, desse modo, maior força e economia de escala. Fora o que acontecera em Santiago e no Fogo. O Governo tornara-se mais enxuto e dispersara-se pelas ilhas. Que se visse o efeito que a instalação de dois ministérios tinha tido na ilha da Brava! O Parlamento tinha também ficado mais leve e os deputados eram bem pagos mas tinham imensas exigências sobre eles.



Tinha havido, por parte do Governo mas principalmente da sociedade civil, uma convergência para uma cultura de economia de escala e de eficiência como nunca antes se vira no país. Talvez inspirado pela rega gota-a-gota, que se tornara a coisa mais comum nas paisagens das ilhas – jardins nas ruas, nas rotundas, nas escolas, nos pátios à frente dos prédios, todos com os seus tubos de gota-a-gota. Saíra uma lei sobre a obrigatoriedade do aproveitamento de águas nos edifícios e toda a água que advinha de banheiras e lavatórios era filtrada por tanques de areia e reutilizada em jardins e pomares. Sim, pomares. As pessoas tinham passado a cultivar hortaliças e frutos nos quintais e terraços.


Uma das áreas que mais se desenvolvera fora a da educação. Tinha-se aumentado a escolaridade obrigatória, passara-se a ensinar a língua inglesa mais cedo a principalmente, ela adquirira uma grande importância no curriculum escolar, a par das disciplinas mais científicas. Os jovens arranjavam trabalhos ainda antes de sair da escola, trabalhando em partime em calling centers estrangeiros que se tinham vindo instalar no país. As universidades tinham passado a atrair estudantes da região ocidental africana, não só pela qualidade do ensino mas porque Cabo Verde apresentava condições tão positivas para o estudo – um ambiente pacífico e em pleno desenvolvimento, liberdade religiosa total (pelo menos aparentemente).


A música e outras formas de arte haviam explodido, pura e simplesmente. Tinham sido abertos dois grandes estúdios de gravação mas o mais importante tinham sido o número de especialistas da música que se tinham organizado para dar formações nas ilhas, despertando em muitos a vontade de aprender mais e noutros, o desejo de regressar a Cabo Verde e trabalhar a partir daqui, a ponto de o país passar a ser procurado por grandes artistas para aqui gravarem a sua música.


O artesanato também sofrera uma revolução. Muitos designers tinham-se voltado para essa área, e objetos do dia-a-dia ganharam novas abordagens por parte dos artesãos, levando a uma subida de compras nunca antes vista, tanto por parte de nacionais como por parte de turistas.


O turismo tinha sido o maior motor da economia e continuava com um grande peso. Chegavam, por ano, cerca de um milhão e meio de turistas, menos que em muitos outros destinos semelhantes. Mas! Estes visitantes passavam em média 10 dias no país, visitavam pelo menos quatro ilhas, e cerca de 300 mil nunca punha os pés num resort all inclusive.


Vinham praticar desporto nas ilhas do Sal e de São Nicolau, vinham fazer caminhadas em Santo Antão e no Fogo, vinham fazer negócios, vinham participar em eventos culturais, num calendário tão rico que praticamente todas as semanas havia espetáculos de música, teatro, dança ou festivais de cinema e artes plásticas. A ligação entre as ilhas nunca fora tão fácil e era muito comum que os nacionais dividissem os transportes com os visitantes que preambulavam entre as ilhas com passes comprados na internet.



O aumento dos turistas trouxera o tão almejado mercado, que pelo seu tamanho, tornava possível o desenvolvimento de negócios. Isso e a internacionalização de empresas levara a um boom das pequenas e médias empresas. A produção da agricultura era bem canalizada para os hotéis e restaurantes e a indústria de produtos gourmet nacional tinha fãs em muitos cantos do globo. Ser agricultor passara a ser chique e tão rentável que muita gente saiu das cidades para se instalar no campo e nas ilhas com mais potencial de produção.



Ah! Que belas festas de ano novo por toda a parte!

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