Tempos de confinamento, oitava semana. Noto que passei praticamente todos os dias vestida da mesma forma – calções e t-shirt, tudo amachucado, claro, quem é que anda a passar a ferro? O meu cabelo também é uma sombra do que foi: invariavelmente, está preso num rabo de cavalo feito à pressa, porque há-que limpar e varrer e lavar o chão e a bebé fica sempre a interromper.
Não sei quando foi que pus batom pela última vez, quanto mais outras coisas. Nas duas primeiras semanas pintei as unhas dos pés, depois achei que o importante era estarem limpas e pus apenas um verniz transparente. Nas mãos, mantenho as unhas curtas para não magoar a criança. Refletindo nisso tudo, resolvo, ontem, tomar um banho antes do almoço, pentear-me e escolho o meu perfume mais caro: Addict, de Christian Dior. Como sei que é forte, esguichei apenas atrás do pescoço e depois, com os dedos, toquei aí e pus atrás das orelhas e nos pulsos. Estamos ainda no início do almoço quando ele me diz, uma expressão de incómodo no rosto:
- Estás a usar um desodorizante diferente?
- É perfume! Não gostas?
E ele, responde logo:
- Não, não é isso. É bom. – A seguir levanta-se da mesa e oiço-o dizer, a voz de quem está a pensar alto:
- Ainda bem que não perguntei se era flit.
Sem comentários:
Enviar um comentário