Soncent

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quarta-feira, 30 de maio de 2007

Tu es um portugues - parte IV

Levarás contigo o buldogue, que se fará grande e forte, mas de uma melancolia incurável. Português, tratarás desse cão como as velhotas tratam dos seus caniches. Leva-lo-às a todo o lado, comerá do teu prato, será escovado e amimalhado como uma primeira filha. Mas não te amará. Abanará o rabo quando chegares a casa, mas não te saltará para as pernas. Sentirá sempre a falta da mão da dona, esquelética mas amantíssima. Recordará os dias da infância, quando era passeado ao colo por todo Mindelo. Os banhos na praia, os pastéis no café Lisboa. Não se recordará do dia em que o conheceste. Não saberás que até o fumo de cigarro lhe faz falta, agora que deixaste de fumar. Em comum, vocês terão apenas as saudades de Janice.
Falarás dela. Inventarás pormenores às vezes, a interlocutores ocasionais. Inventarás histórias inteiras com que entreterás gente no bar, com quem partilhas umas cervejas. Contarás tantas mentiras que será impossível não caíres em falso, contares uma história que vem contra outra. Ainda bem que ninguém te presta muita atenção. Ainda bem que só te ouvem os ébrios. Arrebitam a orelha quando falas da ilha de São Vicente mas depois vão-se distraindo à medida que começas a dar pormenores de mais. Português, um dia um crioulo te prestou atenção suficiente para inventares uma história nova. Começaste por lhe perguntar se conhecia a Janice. Disse que não mas não resististe a mais uma farsa. Foi com voz grossa e bem modulada que começaste a contar:
"- A Janice tinha um jeito diferente de usar as palavras. Assim, nem parecia o mesmo português que usamos, sabes? Levei um tempo para entrar nesse léxico, levei tempo mas cheguei lá. E depois, um dia, meio de repente, num pedaço de guardanapo de um restaurante na Rua de Praia, recebi a sua maior declaração de amor. Ela tinha escrito, a lápis de carvão, uma frase assim: "Aparte os sentimentos baldios, nutridos por fantoches espontâneos, os meus nobres sentimentos rodaram sempre à tua volta." Nessa noite, pedi-lhe em casamento.
"Declarava-se-me com frases sempre tão bonitas, muito sóbrias, raramente apaixonadas. Mas eu sabia que havia paixão. Talvez uma certa rigidez na escolha das palavras, um certo puritanismo? Alguma grandiloquência? Mas beleza, sempre. Anos depois, do mesmo léxico esquisito saíram as palavras mais argutas para me ferir. Com arte, sabes? Com amor à língua. Senti-me magoado, ofendido, pisado, mas mesmo assim, há uma certa consideração em magoar-se alguém com rosas literárias, não há? Se eu queria discutir, dizia-me" São trinta metros de conversa… que não servem para nada." Quando estava contente comigo, chamava-me de "Portuguesinho querido" mas se lhe fazia alguma coisa de que não gostava, já era "Mandrongo de uma figa!"
Às vezes, em grandes folhas de bloco, escrevia um chorrilho de perguntas (geralmente, quando algo estava mal…): "Valerá à pena fechar os olhos a tudo o que tens de mal para o pouco de bom que tens?" "Haverá uma dimensão em que possamos ter um compromisso que permita um convívio saudável entre nós? Que dimensão poderá ser, se não basta querer?" "Então, não me dás tempo de amuar?"
Conheci-a no café Lisboa. Ela passava, com um bonito vestido e chamei-a, sem ao menos ter preparado uma frase bonita para lhe dizer. Veio logo, sentou-se, sorrindo e começamos a conversar. No cartão que me estendeu, rabiscou:
"Tomei banho, vesti-me e saí pronta para me entregar aos braços de um príncipe." Ainda o trago na carteira, veja. Depois, surgiram boatos, de que me andava a trair. Saíamos fazia dois meses. E encontrei esta, numa folha de papel higiénico: "É uma doença crónica, esta minha atracção por bocas." Só assim. Nunca lhe falei no assunto. Havia alturas em que se punha nervosa, mandava bocas a torto e a direito. Viu-me perder a paciência e gritar com ela. No meu marcador de livro, escreveu: "Quisera que me pudesses aceitar o amor, sem ligar à minha má-língua – que já existia antes mesmo de eu existir…" perdoei-a mais uma vez. Era uma mulher incrível!
Quando se arrependia de alguma frase que me rabiscara, ou eu fazia referência a alguma dessas ideias, escrevia num quadro negro da cozinha: "Surpreendente é a tua capacidade de tirar ilações dos meus textos, de me procurar e me encontrar onde eu nem acredito que esteja." Terrível, a moça! Quando lhe contei que estava em constante conflito com a minha directora, fez este único comentário, num livro sobre relações empresariais que me comprou: "Relações controversas, muita pólvora, deve haver tensão sexual, dizem."
- Mas você trabalhou em Mindelo, então? – Que crioulo atrevido, interromper-te a história para vir saber pormenores sem importância… com um gesto de mãos, ultrapassas a pergunta como quem enxota uma mosca e continuas na tua história. Ou será fábula?
«Separámo-nos por causa dessa directora. Semanas depois, num bilhete enviado dentro de um envelope enorme, encontrei estas palavras:"Estou à espera que batas à porta para te poder abraçar. Sou capaz de ficar cá o dia todo, embora nada tenhamos combinado. Mas conto que sintas o mesmo que eu e o que sinto é que tenho que te ver. Mesmo que venhas com aquela cara séria que ultimamente usas para estar comigo." Voltei para ela, era demais para mim. Noites depois, dormiu fora de casa. O bilhete dizia: "O sentido de justiça pode muito bem ser confundido com uma natureza vingativa." É, dormira com um outro homem qualquer, nunca tive a certeza. "Como te pedir desculpas se me preparo para te magoar outra vez?" Depois desta, soube que o relacionamento estava condenado. Mas amava-a tanto!

11 comentários:

Anónimo disse...

porra! Aqui esta o link de uma versao mais interessante e inteligente desse merda do conto "Tu es um Portugues" :

http://segisleubonifacio.blogspot.com/2007/05/variaes-do-conto-sou-portugus.html

Anónimo disse...

"Tu Es Um Portugues". Nunca li tamanha Idiotice na minha vida. Podia-mos, sem poblemas, dizer que na falta de um trabalho mais decente, o premio foi cedido ao MELHOR DOS PIORES!

Critico: Anton Paskal

Anónimo disse...

quero mais... envolvente, viciante...

Eileen Almeida Barbosa disse...

Sr. Anonimo, "Podiamos" escreve-se tudo pegado, ok? E eu so nao pus o acento porque nao o tenho neste teclado. Faca criticas, mas respeite a lingua!

Anónimo disse...

Sra. Eileen, obrigado pela correção. É óbvio que a sra. investiu mais tempo corrigindo os meus pequenos lapsos gramaticais do que investiu escrevendo o idiótico conto. E para ajudar a sra. a corrigir-me da próxima vez com mais eficiência, deixo aqui os códigos dos acentos(que podem ser feitos em qualquer teclado).
Tenta de novo.

Anton Paskual

À ALT+0192
Á ALT+0193
 ALT+0194
à ALT+0195
É ALT+0201
Ê ALT+0202
Í ALT+0205
Ó ALT+0211
Ô ALT+0212
Õ ALT+0213
Ú ALT+0218
Ü ALT+0220

à ALT+0224
á ALT+0225
â ALT+0226
ã ALT+0227
é ALT+0233
ê ALT+0234
í ALT+0237
ó ALT+0243
ô ALT+0244
õ ALT+0245
ú ALT+0250
ü ALT+0252
Ç ALT+0199
ç ALT+0231

Eileen Almeida Barbosa disse...

Sr. Anton, fique com os seus acentos complicados. Esse "pequeno lapso" mostra falhas gramaticais graves, pelo tb deveria passar mais tempo a estudar gramatica, para fazer criticas mais crediveis...

Anónimo disse...

Sra Eileen,
mais uma vez obrigado. Finalmente
a sra. mostrou a verdadeira capacidade mental que você possui. Em vez de ficar por aí corrigindo críticas, a sra. devia estudar mais a arte da escrita e repensar o idiótico conto.
É importante saber distinguir uma exortação mental que através de um sentimento frustrante faz com que muitos perdem o sentido das coisas. Exorbitam através de frases caprichosamente delineadas um tom altamente estruturado. Porém, perante uma examinação mais de perto, perdem a beleza que antes deslumbrava para ser somente TOLICES. Agora, Ponderando no comportamento ARROGANTE que tem-se exibido neste blog, de repente o alcance das teorias desfazem-se no conteúdo das MUITAS ignorâncias aqui disfarçadas.
E assim concluo o meu caso.
Prá que perder mais tempo?

Anton Paskual

Eileen Almeida Barbosa disse...

Sr. Anton, uma perguntinha (dois pontos) Se o conto e tao mau, se o blog nao presta, porque e que os le?

Anónimo disse...

Senhor Anton Paskal, sinceramente já me cansei! Ou o senhor está com dor de cotovelo ou gostou tanto do conto que teve necessidade de fazer uma outra versão. Porque não escreve o seu próprio conto e procura ganhar um prémio também? Assim quando competir com a Eileen e ela ganhar outra vez, saberá quem é o melhor dos piores.

Anónimo disse...

bom.. eu sou um outsider, mas quando vejo tanta foleirice disfarcada, nao consigo ficar quieto.

Quanto mais quando vejo uma jovem, que ate me parecia inteligente e interessante, com formacao superior, maravilhada tal qual menino que "nunca viu" com um simples blog... e tambem o conto do Sr. Segisleu, nada tem a ver com o Sr. Anton Paskual. Ele nao escreveu D. Nadia. Foi um tal de Segisleu que o escreveu. E nao sei se repararam na escrita do Sr.(Dr.??) Segisleu Bonifacio!

Sim senhor.. esse Sr.Dr.(??) tem qualquer coisa de original na sua escrita! ele escreve de uma forma semiologa. Traduz atraves das palavras a vivacidade eloquente de uma poesia simbiotica. Expos de uma forma tao clara o seguinte: que realmente toda gente consegue escrever o que bem entender que sempre aparece um amigo, irmao, colega ou simplismente um interessado querendo ganhar uns pontos, praticando a tao famejada masturbacao intelectual ao autor.

Sim D. Eileen. Tenho acompanhado os seus escritos na Revista da A Semana (que digamos.. nao passa de uma tentativa da Directora Filomena de fazer uma revista social, mas sem qualquer interesse ou funcao nesta nossa tao mediocre sociedade caboverdeana). sim, como dizia, acompanho a Sra. Eileen faz um bom tempo... e sinceramente, fiquei um pouco decepcionado consigo. Claro que a minha humilde opiniao pode nao ser importante para si. Pode simplismente ignora-la ou apaga-la ou nunca publica-la. Mas so queria lhe dizer Sra. Eileen, que a humildade e a aceitacao de criticas faz parte do amadurecimento do nosso ser. Tanto como simples humanos ou como artistas, escritores ou wannabe's. Por favor, faca um pequeno jogo de consciencia. Leia novamente os seus escritos, veja o seu blog, veja-se ao espelho, enacara os seus medos e defeitos, nao tenha medo de se auto-criticar. E talvez vera que realmente tem deixado escapar uma boa dose de arrogancia, falta de humildade e muita necessidade de ser paparicada. Por favor, nao seja mais um daqueles nossos artistas que teem plena consciencia que estao a fazer mediocridades e continuam a fazer, mesmo tendo consciencia disso, so porque e o que lhes dao mais fama. Nao seja um zouk da literatura.

Compreendo no entanto que com apenas 25 anos, as mulheres caboverdeanas ainda nao estao cabalmente formadas intelectualmente e quica psicologicamente.

Mas acredite: com muita pena que deixo aqui a minha manifestacao. Porque nao suporto ver um ser humano com muita pontencialidade se desfazer em disparates que nada trazem de bom para uma boa formacao HUMANA!

tambem peco desculpas se cometi algum erro ORTOGRAFICO ou GRAMATICAL (e o meu teclado nao tem acentos, pois escrevo de um pais que nao usa acentos), sim, porque sei que isso lhe irrita profundamente.

Muito respeitosamente,

P.J. Semedo Fortes
jpsemedofortes@gmail.com
Mestrado em HBC, pela YALE
USA

Unknown disse...

Sra. Eileen.. peco desculpas por incomoda-la mais uma vez. Mas so queria fazer uma ligeira correcao no meu email que escrevi errado. Pois que nao quero que pense que sou mais uma pessoa inventada e que coloca um email qualquer para poder parecer "mais real"...

por isso.. aceita as minhas desculpas e vai o email correcto:

pjsemedofortes@gmail.com

se quiser entrar em contacto por qualquer motivo que seja, sera com muto prazer que lhe responderei.

muito obrigado.

Paulo