Soncent

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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Querida Eury

Não vejo como me justificar por ter riscado um fósforo e acendido uma pequena fogueira, pelo menos três blogs a falarem de um meu post que, lendo e relendo, não vejo o que foi que afirmei de tão mau. Chamei badio ao crioulo de Santiago, tal como sempre se fez. Afirmei não o perceber na totalidade, o que é verdade para mim, e para muitos. Pus umas reticências aí onde diz que há quem não perceba português. E perguntei a opinião de quem lê o blog. Porque é que isto soltou tantas vozes a chamarem-me bairrista, preconceituosa e sei lá mais o quê? Ficas surpreendida com a forma como abordo a variante de Santiago. Mas diz-me: é só porque lhe chamo badio (que tive o cuidado de pôs com letra maiúscula? A que é que apontam vocês os dedos, exactamente?

Um beijo,
Eileen

14 comentários:

Anónimo disse...

O problema não foi o teu post, o problema foi o facto de teres tocado num tema muito sensível, um tema que toca em complexos e traumas sociais, que parecem não estar ultrapassados. Há um grande problema com a cultura badia, que durante todo o período que antecedeu a independência foi reprimida e até ridicularizada. Os badios, a despeito de constituírem a grande maioria da população ( quase 2/3), de serem os sorvedores de grande parte do investimento público, não conseguiram traduzir esses números no seu peso cultural relativo. A Capital nunca é citada como exemplo de nada, muito pelo contrário, é o caos, a criminalidade, a sujeira , a falta de educação das pessoas etc... O problema, é o mesmo problema que os novos-ricos de séc.XIX tiveram, eram ricos mas não tinha linhagem, solução: compraram ( literalmente) títulos de nobreza. Sintomático de tal situação, é o facto de um ilustre estudioso da Praia, ter vindo recentemente defender que na verdade o movimento Claridoso não tinha surgido em SV mas sim na Praia ( pois havia umas cartas escritas na Praia e etc...). Mas será finalmente o badio a tornar-se a língua oficial, isolando-nos ainda mais do que o mar nos fez, mas enfim...
Beijos

Anónimo disse...

Olá Eileen!
É só para dizer que não percebo porque é que toda a gente ficou perturbada. É que de facto o Badio é o crioulo mais complicado. Apesar de ter aprendido crioulo com Badios, quando cheguei a São Vicente pareceu-me tudo muito mais simples, quase como se toda a gente falasse português ... e fiquei um bocadito triste quando o único livro que consegui comprar sobre crioulo estar 99% em Badio (Pa Nu Papia Kriolu). Aproveito para agradecer a dedicatório que puseste no livro que o meu maridão me trouxe. Gostei muito da tua escrita.
Beijinhos e continua o bom trabalho.

Xana

Anónimo disse...

Eileen, li o teu post e já respondi...

bjs
Eury

Eileen Almeida Barbosa disse...

Olá AP... Olá (jogos de cor e luz), olá! (três vivas), Olá!! (Fogos de artifício). A esta altura do compeonato, se concordo contigo nalguma coisa do teu post, apareço dependurada de uma acácia. Mas obrigada pela tua voz pausada, no meio desde barulho todo.

Eileen Almeida Barbosa disse...

Olá Xana! É um prazer ver-te pelo blog. Percebo as tuas dificuldades. No entanto, há mais livros em crioulo, se calhar estão é esgotados. Não tenho a certeza de que Hora di bai esteja em crioulo, mas se não está, o português é bem acrioulado... beijos!

Miguel Barbosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Barbosa disse...

Meu caro Ap, embora não me lembre das aulas de História dos novos ricos do sec. XIX a comprarem titulos,sei que o dinheiro desses novos Ricos foi conquistado com trabalho, inovação e talento, enquanto que os Velhos Ricos ou Nobres eram herdeiros desocupados de fortunas conquistadas com pilhagem e roubos.
Pelo seu comentário dá para ver de que lado o Sr. se encontra.
Não queira generalizar para o restante dos CaboVerdeanos (SãoVicentinos ou não) essa sua visão distorcida do MÉRITO.

Anónimo disse...

Aos que me criticaram:

Não é rotulando a realidade de preconceito que se a transforma em falsidade. Não é apelando a unidade nacional, ao patriotismo( qual Salazar ), fugindo aos problemas que se os resolve. Quando falo da violência da Capital, do seu caos; quando falo da ridicularização que a cultura badia foi vítima durante grande parte da nossa história recente, principalmente em SV, creio não estar a mentir. Quando falo, são factos históricos, da perseguição que a mesma foi alvo no período colonial , creio não estar a mentir. E permita-me que lhe diga, por mais desagradável que isso lhe possa soar, tais factos deixaram marcas sociológicas, feridas, que tenho a certeza que nenhum badio as há-de reconhecer tal como ninguém reconhece os seus complexos. Mas se tais factos deixaram marcas nos badios, também com toda certeza deixaram marcas nos sampadjudos ( que devo dizer, foram sempre privilegiados durante todo o período colonial), que reclamam uma ridícula pretensa superioridade natural( diria até civilizacional!) sobre o primeiros. Tenho a noção que não estou sendo politicamente correcto. Tenho a noção que se trata de temas proibidos. Que quando são tocados, por falta de argumentação cola-se logo o label de preconceituoso. Se falo numa necessidade de afirmação da cultura badia, não a faço de maneira pejorativa, qualquer pessoa que conheça a história, a sociologia dos povos, saberá que à um domínio económico existe a necessidade de se afirmar um domínio cultural, não creio que o cabo-verdiano seja uma excepção a essa regra. E não é pelo facto dos cosmos em questão estarem enquadrados num mesmo país que a regra se não aplica. Em quase todos países é a cultura e a língua da Capital que acabam por tornar a regra, passando as outras, no caso das línguas, a serem sotaques a suprimir na mesma medida que o indivíduo avança social e culturalmente. Quanto aos 2/3, confesso-lhe o meu desconhecimento dos valores, e também não creio que o senhor mos possa dar, pois quando falo do maior investimento que se vem realizando na Capital ( essencialmente) , não me refiro às transferências do Orçamento do Estado, pois a economia não é o OE. Quando falo em investimento público não falo só do OE, falo da criação de condições que possam atrair investidores privados, falo da deslocalização dos centros de decisão política, falo da criação de condições que permitam aos jovens ficarem em suas ilhas sem terem de migrar para a Capital por que na sua ilha não há empregos nem perspectivas, e não diga, como insinuou que o sampadjudo é preguiçoso, pois quando no regime colonial nada se investia na Praia e tudo se investia em SV, era SV o centro económico do país, tudo depende de onde se semeia, para se saber onde colher, há é que encontrar um equilíbrio.
E já agora não é pelo facto de sermos todos cabo-verdianos que não devemos ter opiniões divergentes, a unidade nacional não deve ser construída com base no unanimismo de opinião... não creio que Cuba tenha avança muito com essa filosofia.

Miguel Barbosa disse...

Meu caro AP.
No Regime Colonial não se investia nada em lugar nenhum de Cabo Verde.
Se a cultura Badia era ridicularizada em São Vicente, só quem sabe são os nativos dessa ilha, e se quer que lhe diga o Badiu do interior, nunca se preocupou como ainda não se preocupa com a opinião que os samapdjudos de S. Vicente tinham ou ainda têm sobre sua cultura.
O Sr. parece associar "caos" que se vive na cidade da Praia com a falta de Educação dos Badius, e depois fala da migração dos cverdanos da Ilhas para a Praia.
Não seriam esses também responsáveis pelo "caos"?
A cidade é suja por vários motivos, o consumo per/capita é de longe superior ao das outras ilhas, a cidade cresceu desordenadamente etc. etc.
O Sr. fala de ideias que estão incutidas na nossa realidade desde o Tempo colonial e não quer que as chame de preconceituosas – acho que o são por definição.
Sou defensor da pluralidade de opiniões e tenho verdadeiro asco ao Politicamente Correcto.
Sou badiu e ADORO a minha cidade. ADORO também a cidade do Mindelo, suas gentes e sua maneira de estar.
A ideia que passa, é que algumas pessoas de SV (categoria em que sou obrigado a inclui-lo) são da opinião de que na Capital qto pior melhor – "A Capital nunca é citada como exemplo de nada..." – mas devo-lhe dizer que essa é a opinião de algumas pessoas. Conheço S.Vicente e seu povo – e não me refiro exclusivamente aos de Ponta de Praça – e sei que a maioria não pensa como o Sr.
Eu gosto discutir Praia X Mindelo, mas em mesa de bar, não creio que haja necessidade de estudos Antropológicos ou Sociológicos para analisar a situação. Sei que a CV precisa do concurso de todos os CVdeanos unidos com objectivo: melhorar as condições de vida do nosso povo sofrido.
Ou o Sr. acha que uma criança com fome em S.Vicente me incomoda menos que outra na Praia?
Para terminar, gostaria de reforçar um Movimento que estamos a viver na Capital: aqui trabalhamos, convivemos, parodiamos, e nos amamos cabo-verdianos de todas as ilhas, e qualquer querela ou discussão entre ilhas que ultrapasse os limites da brincadeira é automaticamente rejeitada como fora de moda. A capital está aberta a cvdeanos de todas as ilhas que encontram as dificuldades que todos nós enfrentamos no dia a dia, mas não encontram Hostilidade bairrista.
Acho que esse é um bom EXEMPLO A CITAR SOBRE A CAPITAL.
SAUDAÇÕES CRIOULAS!

Anónimo disse...

Com todo o respeito, não creio que reconhecer os preconceitos sociais faz daquele que os constata preconceituoso, muito pelo contrário, os não reconhecer é que por definição os confirmam ( alguém reconhece que discrimina ?!). Se me considera um preconceituoso por dizer que existem preconceitos enraizados na nossa sociedade, é sua opinião que, na minha, o transforma , agora sim, num preconceituoso, que como todos os preconceituosos... "até têm um amigo de cor ( um preto!)”... Não aceito as acusações de bota-abaixo-Praia, pois não acredito que as outras ilhas possam desenvolver-se se a maior delas o não fizer, mas também não aceito que se abandone ilha como S.A, S.N, Maio à sua sorte; que não existam políticas que permitam aos quadros dessa ilhas poderem fixar-se nelas; não aceito que se concentre tudo o que realmente importa na Capital... E não atire a acusação de bairrismo para o ar porque cairá no chão, pois não creio que defender a descentralização económica( que aliás é defendida nos discursos, e apenas neles, pelo Governo) , uma distribuição nacional dos centros de decisão, uma repartição dos centros de poder seja merecedor de tal adjectivação, a não ser que se queira fugir aos problemas insultando aqueles que os levantem. Aconselho a falar com os jovens e os não tão jovens das ilhas que ficam de fora do bolo ( tipo, S.A. S. N, Brava, Maio...) e questiona-los sobre as suas perspectivas, sobre o sentimento de periferia em relação a tudo o que interessa, talvez os há-de de apelidar de bairristas e preconceituosos por reclamarem o que consideram merecer.
E já agora, diz que o regime colonial nada investiu, sabe bem que investiu, pouco, quase nada, mas investiu, e quando investiu, investiu preferencialmente nas ilhas do Norte. Pergunto-lhe onde surgiu o primeiro liceu, quando é que surgiu o liceu da Praia, e quando este passou a leccionar o 6º e 7º anos, e onde os alunos da Capital iam quando queriam terminar o seu curso complementar dos liceus? Pergunto se alguma vez o regime colonial proibiu o tocar da morna em SV como fez na Praia com o funana?
Pode querer desviar as atenções apelidando-me de preconceituoso, bairrista... compreendo, nem esperava reacção diversa, pois reconheço o quão sensível é o assunto. Mas permita-me não aceitar tais qualificações, pois limitei-me a constactar factos e a interpreta-los, aceito que não concorde com a interpretação que lhes dou, mas apenas .

Retribuo-lhe as saudações crioulas, afirmando que reclamar, discordar, ir além do politicamente “incorrecto correcto”, não é sinónimo de falta de patriotismo ou de noção de nação, pelo contrário.

PS: Existem outra ilhas além de SV e Sant. ( embora em alguns discursos, parece não haver), não presuma que pelo facto de não ser da Praia logo sou de SV.

Anónimo disse...

Tenho de concordar com o/a AP. E quando se culpa os sampadjudos do caos da Capital, da sua sobrepopulação , talvez se houvesse empregos nas outras ilhas não haveria a necessidade de migrar, deixando as ilhas de origem. E devo salientar que em CV o Estado é o principal empregador, e se não houvesse a concentração de tudo na Capital, de tudo o que é instituição não havia essa demanda.

Miguel Barbosa disse...

Meu caro Ap.
Em primeiro lugar gostaria de enaltecero nivel que o Sr. sempre manteve neste nosso debate. Espero ter estado à altura.
Não reconheço nenhum mérito á Administração Colonial em nosso CV, e acredito que devamos esquecer esse periodo em que oscilamos entre escravos, famintos e analfabetos. Em minha opinião o periodo colonial foi um autentico HOLOCAUSTO!
o SR. fala da Morna como que fosse uma apanágio de SV, qundo ainda na semana passada minha Avó contava-me sobre os bailes com mornas ( e outros ritmos) de improvisso que se realizavam na Praia, algumas das quais talvez ainda só vivam na memória de minha querida avó ( Sanpadjuda da Boa Vista) - ou seja também tocava-se a Morna na Praia.
Devo dizer que não acho que o sampadjudo preguiçoso, não sou de generalizar, o que quis dizer é que existe esse preconceito e ironicamente criticar as opiniões baseadas nos preconceitos. Receando uma interpretação diversa da minha real intenção, retirei o comentário. Minha intenção sempre foi de combater as ideias preconceituosas, não de ofender.
Quanto aos badius que foram estudar em SV, eram aqueles que podia pagar, assim como os que vinham de SA para SV ou do Sal e Fg para praia e Sv ainda no tempo em que estudei de 86/91,; penso nos que não tiveram essa oportunidade e logo desconsidero o Liceu de Sv como um invetimento ( em 500 anos construir um liceu, acho mais uma piada de portugês.
A titulo de informação digo-lhe que vivi no Brasil por 14 anos e senti um aumento impressionante no numero de estudantes de SA que iam estudar lá, como resultado dos liceus que se fizeram na ilha.
Quanto á descentralização que o Sr. propõe confesso que me faltam subsidios para analisá-la, mas sou um pouco relutante com a criação de mais centros de decisão que podem se transformar em cabides de empregos publicos.
Reconheço que o Sr. tem razão em relação ás ilhas que se sentem periféricas e esse é um desafio que temos pela frente.
Acho que o principal do nosso debate, é a conclusão de que precisamos ver CV como um todo, e e para tal é condição indispensável a superação de rivalidades basedas em preconceitos impostos pelo colonizador.
Para terminar reiterar minha profunda Admiração,respeito e amor pelo nosso cabo verde, e dizer que me sinto bem de SA a Brava, e que cada vez que oiço algo que me possa fazer sentir um pouco menos Cvdeano em qualquer das ilhas, insurjo-me.
Dizer entretanto, que patriota não me considero por receio desse sentimento que manchou a História de sangue.
Um grande abraço.

PS: Sou da cidade da Praia mas não me sinto mais ou melhor do que ningém de outra ilha que aqui se encontre, por isso. EU disse que o "Caos" seria RESPONSABILIDADE ( não CULPA) de todos os Praienses ( nascidos aqui ou vindos de outras ilhas).

Anónimo disse...

bom,
ta pensa ma 1o comentário de miguel barbosa li foi algo esclarecedor, pa quem qui para pensa claro.
pa simples facto di qui quel qui ta passa na cv ê apenas pequeno amostra di quel dja passa e sta ultrapassado(?) na grande parte di mundo...

hora qui ap papia na preconceito, ê debi tem ideia ma tem e não ma foi cusas di história e gossi dja ca tem.
ê ou não verdade qui tcheu sampadjudo (ca só di sv) tem preconceito em relação a badio?! ê preciso fla li?! ca só na piadas não. e inda n' ca odja ninguém li ta reconhece. (djobi significado di Pré-conceito)

em relaçon a criolo lingua, badio historicamenti sempre apresenta resistência, e ca só na lingua.
engraçado ê qui memo na dias de hoje, santiago (co praia ta inclui badios de origem + 2a geraçon co ascendencia di lado norte) ta encara memo resistência.

monti badio ta intendi e papia português dreto (nha 2a lingua co orgulho) ma si alguém ta intendi criolo n' ta prefiri expressa em criolo, seja papiado seja escrito.
e ca só badios! djobi caso di blog multimerdia!

portanto nha povo, si parte substâncial di populaçon des terra ta cre expressa na ses lingua de origem, e por causa disso um companhia aéria resolvi ACRESCENTA (e não substitui) quel mesmo lingua pa da informaçon a bordo, ques otos qui ca ta intendi, ou simplesmenti ca ta concorda, podi na quel hora desfolha revista de bordo, ya?!

opçon di companhia, nha povo, podi ser encarado di dos manera: democracia ou simplesmenti um estratégia pa agrada clientes

sem da corda, co quel post li eileen, bu bu só podi ser considerado um mente aberto - abri discusson pa odja si nu ta intendi cusas midjor - pamó, passa pleonasmo, sta claro qui tem tcheu cusa qui ca sta claro

da caps

Eileen Almeida Barbosa disse...

É isso aí, Da Caps.