Soncent

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sexta-feira, 24 de abril de 2009

O meu Tom Waits

Os clipes eram todos a branco e preto, não por uma questão de imagem. Um bocado porque ele não não acreditava em imagens coloridas na televisão. Em parte porque não se podia importar menos. Era um cantor. Tinha o piano em casa e tocava e cantava durante horas. Vinham os amigos sentar-se à volta, traziam as suas próprias garrafas de bourboun e depois passaram a gravar as canções em pequenos gravadores portáteis, porque ele inventava canções magníficas que depois esquecia.

A mulher dele era uma insensível, uma surda para tudo o que tivesse melodia, mas mantinha os rolos de papel higiénico na casa de banho e a barriga cheia ao marido. Quando engravidou quis casar de papel passado, para garantir qualquer coisa. Ele não queria. Por cisma. Não acreditava em casamentos. Ela fechou-lhe as pernas, deu-lhe comida de cão para jantar. Mas ele comia a comida de cão com o gosto com que saboreava um rizzotto. E apesar de feio, bruto e bêbado, as mulheres perseguiam-no.

Depois ela atacou o piano. Começou com uma mancha de ácido. Sem grandes resultados. Quando arrancou uma tecla, conseguiu os seus intentos, não sem antes levar umas quantas cabeçadas no nariz. Casou com o nariz ainda inchado, os olhos muito vermelhos. Nas fotos oficiais, ora tem o ramo de flores, ora um leque a esconder-lhe os olhos. Ainda bem que tem uma boca bem feita.

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