Quando estava a estudar em Faro, a minha mãe foi a Portugal algumas vezes e numa dessas, fui ter com ela ao Porto. Nunca mais me esqueço: ela ficou hospedada no Porto Palácio, um hotel super luxuoso situado da Avenida da Boavista, se não estou em erro.
Num desses dias, vinha do pequeno-almoço, toda desportiva, com uma t-shirt dos caça-fantasmas e umas calças de fato de treino e quando ia para o elevador, vi que estava cheio - havia uma conferência qualquer nesse dia e também não me sentiria bem no meio deles de maneira que para fugir de toda aquela balbúrdia elegante me dirigi para um outro elevador um pouco mais discreto. Depois de já estar dentro, reparei num senhor fardado que me dizia uma coisa qualquer de fora, mas as portas fecharam logo e não entendi o que foi.
No primeiro andar, o elevador parou e entrou um careca de óculos escuros. Postou-se atrás de mim, o que me pôs um pouco desconfortável.
Entre o quinto e o sexto andar, a máquina seu uma sacudidela, duas, três... e parou. Eu, muito optimista, fiz um sorriso divertido e pensei - de certeza que já arranca. Depois, e à medida que os segundos se converteram em minutos, fui ficando impaciente, principalmente com a respiração cada vez mais pesada do homem atrás de mim.
Enfim, deixei-me de vergonhas, olhei-o de frente. Ele tinha tirado os óculos - e para minha grande surpresa, era o Pedro Abrunhosa!! Quase não o reconhecia sem os óculos, foi mais pelo timbre de voz, quando me disse, de forma muito educada: "Pressione esse botão vermelho antes que eu pereça dentro desta caixa de fósforos!"
Apertei. Não aconteceu nada.
Passado um bocado, ele voltou à carga, respirando de forma cada vez mais ruidosa, e com um pouco menos de educação:
"Carregue nesse botão não vá eu morrer nesta lata de sardinhas!"
Voltei a apertar o botão.
Ele, agora agarrando-me no braço:
"Aperte a porra desse botão, carrago, que me falta o ar nesta casca de noz!" Antes que ele se tornasse mais violento, peguei do meu móvel, liguei para a minha mãe e disse-lhe o que se passava. Em dez minutos, o elevador foi manobrado para o quinto andar e saímos daquele sufoco.
Tempos depois, ouvi dizer que ele se inspirou para a letra "Quem me leva aos meus fantasmas" dentro de um elevador...
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