Além de fazer parte de várias minorias - raciais, religiosas, étnicas e de género (!) - sou filha de pais divorciados e cresci num apartamento sem quintal.
Ainda bem que foi em Soncent, ou teria resultado numa adolescente problemática, dessas que andam pelas ruas a fumar cigarros roubados e ainda cheiram umas coisas normalmente encontradas em oficinas de sapateiros.
Depois poem-se a jeito, terminam o liceu e hoje andam por aí a competir no mercado de trabalho. Creio que se chamam profissionais promissoras. Outras são profissionais prometidas. Encontram-se muito no Oriente. Outras ainda, profissionais comprometidas. Em Portugal e noutras sítios onde brilha o hélio.
Já a casa da minha avó tinha um senhor quintal, que é quando um quintal tem um jardim, uma torneira, um tanque de lavar roupa, velharias, vasos de plantas. O senhor quintal da minha avó era em si um mundo, sem contar o valente terraço com um quartinho ainda mais cheio de velharias, fogões-primo, lanternas a gasóleo, mercadoria de merciaria que nunca se vendeu, revistas, etc.
De maneira que ia aí brincar e passava horas entretida com coisas que hoje em dia nem me ocorrem ou se me ocorrem, não as sei descrever de forma a que vocês acreditem que passava realmente horas a fazê-las.
Mas era bom.
Chupava a gotinha açucarada de umas flozinhas cor-de-rosa; seguia o curso da água "de esfregona" e tentava criar-lhe sulcos novos antes que ela se sumisse portão fora; construía pequenas edificações de terra. Às vezes, castelos inteiros. Sei lá o quê mais.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário