Soncent

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quarta-feira, 1 de abril de 2015

Creio que eram polícias

 
Ontem a minha mãe fez anos. Resolvi que ia celebrar mesmo estando cá na Praia e ela em São Vicente e fui ao Quebra Canela, na hora do almoço, beber um gin tónico. Foi uma grande exceção pois já por duas vezes, tive episódios de vertigens após beber gin. Mas fazia sol, era o último dia do mês das mulheres e havia aquela energia das manifestações, aquela expetativa do jogo contra Portugal, enfim, uma energia pulsante no ar e nas pedras de gelo dos meus três gins. 

Quando fui pagar ao balcão, senti as pernas um pouco bambas. Decidi que o melhor era deixar lá o carro e apanhar um táxi para casa. Visto que nenhum passava a essa hora, fui andando a pé, curtindo o sol na cara. Devia estar pior do que pensava pois às tantas, um carro do Piquete parou ao pé de mim e o agente que vinha à boleia perguntou-me se estava bem. Disse-lhe que muito bem, obrigada e continuei o meu caminho. 

Passados mais uns metros, um carro da Polícia Nacional parou ao meu lado e mais uma vez, o polícia no banco dos passageiros me perguntou se estava bem. Disse-lhe que talvez um pouco tonta mas que estava à procura de um táxi. Eles foram-se embora. 

Dei mais uns passos e parou um carro sem matrícula, cheio de ferros na janela e um encapuçado perguntou-me para onde ia. Disse-lhe que para casa. Ele perguntou onde ficava a minha casa. Aqui perto, disse-lhe eu, sem querer revelar a zona. Ele disse-me que entrasse e que me levariam a casa. Eu não quis. Vai daí, um homem da grossura de um guarda-fatos mas mais alto sai do banco de trás e agarra-me num braço e mete-me dentro do carro, que zarpa imediatamente. Dentro da viatura, um rádio de baixa frequência estava ligado e não se passou um minuto antes de ouvirmos uma voz feminina a dar conta de um cassubody em Tira Chapéu. 

Arrancaram em alta velocidade, fazendo chiar os pneus no chão e o meu estômago veio parar à minha garganta. Chegamos a Tira Chapéu em menos de três minutos, pararam o carro de tal forma depressa que a minha testa bateu na cadeira da frente. Depois dois encapuçados saíram à desfilada e vinte minutos depois, estavam de volta, um deles com um puto de t-shirt vermelha agarrado pelo pescoço. 

Puseram-no dentro do carro comigo, e sentaram-se de novo. Voltaram a arrancar naquela velocidade, certamente esquecendo-se de mim, pois percebi que iam para uma esquadra na Achada. O rapazinho esfregava o pescoço e acusava-os de agressão e de excesso de zelo. Às tantas eu não aguentei mais e vomitei. Vomitei em cima do agente à minha direita, em cima do rapaz da t-shirt, em cima dos assentos, em cima de mim. Os encapuçados enfureceram-se na hora. O rapaz gritou como se se tratasse de água a ferver. Reclamou mais ainda de agressão. 

Pararam o carro ao pé do Di Nôs, desceram-nos a ambos e arrancaram de novo. 

Creio que eram polícias.


2 comentários:

francisco rocha disse...

Eu nao fui certamente... Acho eu.
Muito bom. Adorei.

Eileen Almeida Barbosa disse...

Obrigada, Francisco! Há muito tempo!