Soncent

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segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O Romance - a parte que começa a ficar fraca e infantil.

Íris embrenhou-se na procura de Agostin. Recebia informações dele em Dakar, na Mauritânia, até na Argélia. Entretanto cessaram as notícias e ela sentia-se mais impotente que nunca. Pedira um tempo no Bureau, uma mudança de funções. Passou a coordenar um grupo pequeno que dava caça a pequenos traficantes estrangeiros no país. Já contavam algumas dezenas, a maioria de origem africana, mas também vários europeus bem instalados na vida.

Íris sabia que desde o primeiro dia em que vira Agostin, sentado na cadeira dos terrores e com a cara máscula em mau estado, quisera estar nos braços dele, beijar a boca carnuda e irónica, sentir na pele a força daqueles músculos. Sabia que era por isso que se tinha zangado tanto quando Quizo o tinha solto e ele desaparecera sem deixar pistas e sabia que era por isso que tinha decidido ir atrás dele. Tivera sempre a esperança de que ele não fosse nada de criminoso, apenas lutasse pelo seu país tal como ela fazia pelo dela. Sonhara com ele em mil situações, cada uma mais rabuscada, mais saborosa. Mas ao mesmo tempo, tinha dele uma grande raiva, por ser tão esperto, tão cínico, tão poderoso e por fazê-la perder o norte. Agostin mexera com ela, fizera-lhe sonhar, coisa que há muito não fazia. Fê-la pensar em abandonar tudo.
A malta lá do Bureau falava dela, diziam que era um fruto seco, que não tinha sentimentos. E durante uns tempos, fora verdade. Esquecera que tinha um corpo e que era ainda nova. Apagara os sentimentos, pura e simplesmente. Havia tanto tempo que não nutria sentimentos por alguém, que agora não sabia como lidar com essas sensações. Sentia-se como uma máquina muitos anos parada que agora obrigavam a funcionar. Sentia as peças perras, os gemidos da geringonça. Estava-se a tornar numa mulher confusa e perdida, obsessiva e deveras obcecada. Para mal dos seus pecados, não se conseguia concentrar, sonhava sempre com ele, mesmo acordada, mesmo no trânsito, mesmo trabalhando.
Quizo reparou. Bob também, mas ele ao menos não comentou. Quizo adorou a oportunidade. Lançou-lhe inúmeras indirectas. Disse-lho frontalmente. Qualquer coisa como “Então ficaste enrabichada pelo Agostin, foi?” Ela explodiu. Fez uma das suas cenas. Mas elas agora já não convenciam ninguém.

2 comentários:

Anónimo disse...

Já tinha lido qualquer coisa sobre você na Semana, descobri o seu Blog agora e gostei.

Eileen Almeida Barbosa disse...

Ah, muito obrigada, Zélida. Fico mesmo contente quando alguém me diz que gosta do blog. Visite mais vezes!