Soncent

Soncent

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O Romance - Capítulo XI, a pedido de um amigo especial

Na manhã seguinte, Íris apareceu na delegação da polícia só para perguntar se havia novidades. O barco do hotel não tinha deixado o porto, pelo que ela não se preocupou mais e foi apanhar um bocado de sol na Praia de Cruz. Exagerou. Voltou da praia muito queimada, as maçãs do rosto vermelhas, os olhos brilhantes.

Para se aproveitar do bronzeado, vestiu um vestidinho branco que era o seu “ou vai ou racha”.

Detestava-se por estar a fazer o que fazia. Via-se a tomar um banho esmerado e a depilar-se sabendo muito bem qual a razão desses cuidados, embora dizendo-se que não aconteceria nada. Quantas vezes o fizera!

Nesses momentos, acontecia-lhe observar-se como se estivesse no ecrã, num filme qualquer que não a sua vida, e ela própria, de fora, sem poder comandar o que acontecia na tela. Assistindo somente às acções da actriz.

Acontecia-lhe o mesmo quando já em presença dos homens, quando eles atacavam, quando tentavam conquistá-la. Ela via-se sorrindo e piscando os olhos, via-se cedendo à sedução mas não se conseguia impedir. Era levada pela corrente do desejo que lhe pulsava no corpo traidor.

O que é que aconteceria hoje? Bartox, com aquela cara atraente, com a voz insinuante, e ambos sabiam muito bem o que vinha fazer. Claro que, para encobrir, ela preparara os coktails, ele devia trazer uns aperitivos e ela, claro, mostraria as fotos.

O próprio entusiasmo que ele demonstrara pelas fotos fora exagerado, fora uma maneira de ter mais assuntos de conversa entre os dois.

E deixara-se vencer pela lábia dele, pela voz forte mas baixa. Depois de petiscarem, eles sentar-se-iam no sofá da sala, ela talvez acendesse o candeeiro, e ele insinuar-se-ia. Ela começaria por se negar, diria que era muito cedo, ele discordaria, ela apresentaria outros argumentos como não ter a certeza de estar a fazer a coisa certa, mas quando ele insistisse nos molhados beijos no pescoço, ela cederia de vez, no entanto insultando-se por dentro por ter feito algo que decidira não fazer.

E o que doía, era que mesmo sabendo que isso tudo iria acontecer, ela não conseguia parar, continuava preocupada em escolher uma roupa interior bonita e que a favorecesse. Estava a retocar os olhos quando o telemóvel tocou.

Sem comentários: